VOLUNTARIAMENTE... UMA OVA!...
Foi ponto central de diversas discussões, mais ou menos académicas, nos meses que antecederam a temporada. Por sugestão da Agência Mindial anti-Dopagem (AMA) os Corredores eram "convidados" a ceder amostras do seu ADN para a eventual necessidade de, posteriormente, e em caso de qualquer... "caso" de suspeita de uso de produtos ou recurso a práticas interditas, aquele poder servir para provar, ou não, isso mesmo.
De qualquer modo, na esmagadora maioria dos países, o ADN de um indíviduo está integrado naquilo a que se chamam genericamente "dados pessoais" sujeitos a protecção. Ora, logo e perante isto, ninguém pode ser obrigado a facultá-los com a excepção, é evidente, e é essa a "ferramenta" legal que a sociedade, no seu todo, pode usar, a mando de uma ordem judicial.
E as opiniões dividiram-se.
A minha não vale mais do que as outras, mas insisto nela.
Em muitas das chamadas grande superfícies comerciais há zonas e produtos nas/nos quais estão implantados avisos de "Não Mexer". O que não impede muita gente de, por pura curiosidade, não deixar de lá por a mãozinha.
Imaginemos, numa imagem de puro exagero, que o "mexer" acarreteria sanções penais. Seria eu obrigado a, à entrada nesse complexo comercial, facultar as minhas impressões digitais para que, posteriormente, me pudesem acusar de ter sido um dos que só vêem com os dedos? Claro que não.
Reduzido o caso à sua expressão mínima creio que a discussão deixou de fazer sentido. Por enquanto, e - repito-me - na esmagadora maioria dos países do chamado Mundo Democrático - lido no sentido de que os cidadãos têm direitos inalianáveis - o ónus da prova compete à acusação. Isto é, para os mais "loiros"... não sou eu quem tem de provar que sou inocente, é a acusação que terá de provar que sou culpado.
Baseando-me, essencialmente nisto, defendi - e defendo - que a coacção, no sentido de que os Corredores deviam, voluntariamente, ceder o seu ADN não teria base legal onde se sustentar. Sobrava uma "saída" e, muitos, acharam-na exagerada.
Obrigar, em forma de cláusula de contrato de trabalho, os Corredores a cederem essa amostra.
E há quem duvide que foi exactamente isso que foi feito?
Então o documento que junto a este artigo prova, em definitivo, o contrário.
Os Corredores FORAM OBRIGADOS - a alternativa era não encontrarem trabalho - a ceder uma coisa que as Leis gerais (e lá volto eu) da esmagadora maioria das sociedades democráticas preservam como DIREITO dos seus cidadãos.
Como, por exemplo, os contratos dos futebolistas impedirem que estes falem abertamente.
Qualquer advogado estagiário, na área do Direito do Trabalho, ganharia uma causa destas em tribunal, mas... se a prioridade é garantir o sustento, para si e para a sua família, quem é que se vai queixar?
E há outros documentos - cuja legalidade aqui questiono - que Profissionais são OBRIGADOS a assinar e que, depois, e quando envolvidos em problemas, acabam por os deixar sós.
Pai e mãe da CULPA que, nestes casos, nem se aplica a velha máxima do morrer solteira. Mas há quem trate, antecipadamente, que não surja órfã.
Como diria o Octávio Machado, vocês sabem do que estou a falar...
5 comentários:
Meu caro Manel!
Pena que não possas fazer comigo a viagem até Sangalhos. Teríamos, seguramente, oportunidade e tempo para pôr a nossa escrita em dia.
Assim, e porque entrei agora mesmo no teu blog, o uqe tenho feito, mas sem regularidade, não resisto a dar também o meu «palpite» sobre a questão. Dito de outro modo, não resisto a manifestar igualmente o meu espanto por continuar a haver pessoas pessoas que acreditam que um contrato de trabalho pode inlcuir limitações, condicionalismos, constrangimentos, ou o que se lhe queira chamar.
De uma foma simplista, diria que uma das partes aceita trabalhar e que a outra aceita remunerá-lo pelo trabalho. Tudo o mais, estará mais... E se eu disser que o ADN é meu, só meu, apenas meu... e que só respondo na presença do meu representante legal? Será que, nessa condição, me darão o trabalho?
Parafraseando também Octávio Machado, como fazes: nós até sabemos do que estamos a falar. Ou não sabemos?
Um abraço
Continuamos à espera que voltes e em condições de... bem pedalar.
Martins Morim
É com uma satisfação tão grande que a torna não mensurável que te abro os braços num abraço forte e sincero, Martins Morim.
Principalmente numa, confesso-o, fase difícil porque estou a passar. Tão difícil que já questiono tudo.
O facto de saber que conto contigo, numa espécie de "guerra santa" - é exagerado o termo e também o abomino, mas saiu, deixá-lo ficar... - tentando, no meio que há muitos anos escolhi como aquele onde queria ser mais interventivo (o Ciclismo) dá-me mais algum alento.
Não pretendo ser a "voz da consciência" de nada nem de ninguém, mas quando começo a desesperar, vêm-me à cabeça, sempre, sempre, os velhos versos de José Mário Branco: "Vemos, Ouvimos e Lemos, Não Podemos Ignorar..."
Como acho que compreendeste perfeitamente (e não me admiraria nada que tenhas sido o único), assumir a "batalha" ao lado dos menos protegidos, que são os Corredores, não foi decisão tão difícil assim. São eles que derramam suor e sangue. E lágrimas. São eles quem faz o espectáculo. A tomar partido por algum dos lados, só poderia ser pelo deles.
Mas o "novelo" está, a cada dia que passa, mais enleado. Ainda vou conseguindo - com dois ou três "desvios", imptos do momento, nos quais feri quem não devia, nem merecia ser ferido - manter a serenidade necessária para poder continuar a mover-me sem criar inimigos, mas dita-me a consciência, essa coisa que muita gente não tem nem sabe o que é, que neste momento de crise no Ciclismo, a merecer o apodo de muito grave, se se tenta "pegá-la" tem que ser mesmo de caras. Olhando o "bicho" olhos nos olhos, mesmo sabendo que "pesa" muito mais do que eu, e arriscar-me, confiando na sorte. Que ao menos seja leal. Venha com a força que tem, mas sem truques sujos. Se eu tiver braços para o agarrar, tudo bem... se não...
Se não que outros tentem afrontá-lo, enfrentando-o, sempre de caras.
Com a conivência, até de quem, à partida, poderia parecer insuspeito, e com a CS à cabeça, vejo, oiço e leio autênticos "assassinatos", quer na forma, quer nos conteúdos, de quem escolheu para profissão ser Corredor. O que não é exactamente o mesmo que ser... sapateiro (com as minhas desculpas para estes profissionais, tão dignos na sua profissão como os demais).
Questiono motivações, oportunidade... questiono principalmente alguns métodos.
E nas longas noites de insónias pergunto-me: Como é que se pretende ajudar o Ciclismo começando pela virtual aniquilação dos seus principais protagonistas?
Como, ao fim e ao cabo, até me faz bem manter a cabeça ocupada, vou continuar a pensar nestas coisas. E a (ab)usar deste espaço que é meu. Que, sem que eu nada tenha feito para isso, grangeou alguma credibilidade. Me manteve vivo, na memória da grande família do Ciclismo.
A Solução para os males do Ciclismo NÃO ESTÁ, definitivamente não está, no encaceramento de todo o pelotão. E quem se apressa a condenar os Corredores não gosta de Ciclismo. Pior ainda - mas essa parte é para rir - não faz a miníma ideia daquilo a que, com muito pouca responsabilidade, se apressa a escrever.
Caro Manel!
Essa satisfação e alegria são também minhas.
Mas pensa numa coisa: se há momento em que podes, deves e tens de ser egoísta é esta.
Camarada!
Isto é um modo de vida, como dizia o mestre Pinhão...
Agora, sobre a questão!
Uma boa polémica nunca fez nem fará mal a ninguém. Pelo contrário! Mal faz o mal-dizer, a ignorância e, pior que isso, o autoconvencimento, a sobranceria, o atrevimento... que só pode conduzir ao mal-dizer e à hipocrisia.
Falas de consciência, pois eu falarei de... coluna, que, pelos vistos nesta matéria, os corredores são aobrigados a vergar, além da imposição da bicicleta.
Mas, bem sabes, o verbo resistir há muito diexou de ser conjugado por gente que bem conhecemos, ou pensávamos que conhecíamos.
Mas insisto: venham daí temas para polemizar. Todos aprendemos!
Voltarei depois da ida a Sangalhos.
Um forte abraço
Martins Morim
Só um esclarecimento, não vá alguén não entender quem é este José Armando.
O que aparece em cima (José Armando) são os meus nomes próprios, que Martins Morim, são do meio. A assinatura completa, que consta no cabeçalho do meu mail termina com Lopes.
Esclarecio?
MM
Eu sempre disse que nasci tarde demais. Falhei momentos históricos, como o Maio de 68. O 25 de Abril apanhou-me ainda a meio de outros interesses, mais juvenis, e falhei, principalmente, a possibilidade de ter aprendido ainda mais com Mestres que foram, e continuam a ser, as minhas referências. Como o Carlos Pinhão, que referes. Curiosamente - e sem que eu saiba bem porquê - o seu nome está imortalizado num pavilhão desportivo na minha terra natal, Serpa!
Em termos profisionais, enquanto Jornalista (e perdoem-me a imodéstia de usar a caixa alta), "sofro" de um mal sem cura: tenho saudades de um tempo que não vivi.
Um tempo em que ser-se jormalista era praticamente sinónimo de credibilidade, mais... de honestidade. Acima de quaisquer suspeitas.
Abomino a "selva" em que temos de viver, mas temos que aprender a... sobreviver.
Sobra-me uma certeza - por mais imodesto (outra vez!) que isso possa parecer - quando eu disser, se eu disser, há-de prevalecer o peso que o meu nome leva.
E já não há tantos assim que se possam gabar do mesmo...
Essa é que é a realidade.
A única coisa que ainda me prende a isto...
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