domingo, julho 08, 2007

642.ª etapa


TESOURINHOS "DESENTERRADOS" - XVI

Nesta grande família – com particularidades muito vincadas, não serei eu a contradizê-lo – do Ciclismo, desde o início que me sinto mais ou menos isolado. Hoje, 16 anos depois de ter chegado, ainda não sei, e cada vez é mais difícil percebe-lo, se sou o último dos Velhos… se o primeiro dos novos.
Nestes não me revejo.
Àqueles não ouso comparar-me.
Deus me livre!, digo eu que sou assumidamente agnóstico.

Lembro-me de, com os meus 12, 13 anos, ir ali, à beira da Estrada Nacional 10 ver passar os contra-relógios – foram dois ou três (já repararam que não almejo a perfeição, bastava-me virar na cadeira, apanhar o livro do Guita Júnior e ver em que anos é que se realizaram…) – que saíram de Vila Franca para terminarem em Alvalade. Lembro-me do ano em que o Firmino Bernardino (sou benfiquista, mas ninguém é perfeito) ganhou a Volta… Mas as minhas memórias recuam bastante mais no tempo.

À passagem da Volta por Ferreira do Alentejo. Vila onde vivi e que foi sede de uma equipa que ganhou a Volta. Claro que de cor não sei o ano (mais foi, seguramente, mais de 20 anos antes de eu ter nascido), mas sei que foi o César Luís, dos Leões de Ferreira do Alentejo. Equipa nascida depois de o Sporting ter extinguido a secção e que, por vontade de um dos seus directores, se ter transferido, toda, na sua orgânica, para o Alentejo.

A memória mais antiga que guardo do ciclismo é mesmo a de uma passagem da Volta por Ferreira, a caminho do Algarve, creio…

As outras têm a ver com a Rádio.
Com os relatos do Fernando Correia, do Abel de Figueiredo, do Fernando Emílio… Não sei porquê, ouvíamos mais o velhinho Rádio Clube Português. Moram aqui as raízes da minha ligação ao Ciclismo.

E porque é que vim ter à Rádio?
Porque este Tesourinho TEM a ver com a Rádio.

Há 35 anos a televisão não chegava ainda a 50% dos lares portugueses, contando com as grandes zonas urbanas de Lisboa e Porto. O que quer dizer que no restante do país… no Alentejo, nomeadamente, nem chegaria a cinco por cento…
Mas recupero a questão, porque é que vim ter à Rádio?

Retomei a arrumação dos recortesa matar… que seja o tempo! - e fui dar com este, que reproduzo.

Conheci o colombiano Alfredo Castro pela mão do Fernando Emílio numa das primeiras Vueltas que fiz. Nessa altura ele fazia parelha com outro camarada, mas nos últimos anos, por dificuldade financeiras da sua Estação – já lá vou!... – vinha a Espanha sozinho, pagando as viagens do seu bolso e contando com a boa vontade da organização que lhe suportava o alojamento. Aliás, a foto que reproduzo – e creio não estar a cometer nenhum crime lesa-profissionalismo – mostra-o no locutório (era – que já não funciona assim – um explendido autocarro flexível da Telefónica com 24 cabines pessoais de transmissão), ouvindo a Rádio Volta e repetindo as informações ouvidas, mas com todo um folclore – no melhor dos sentidos da palavra – acrescentado que nos deixava… completamente seduzidos.

Eu próprio – confesso – fiquei por ali alguns minutos só a ouvir.
Que só ouvi-lo era um autêntico espectáculo.

“Inventava”?
Claro que inventava… pois se não tinha mais do que a informação crua e seca do Rádio Volta!…
Mas os seus relatos faziam arrepiar os pelos dos braços.

Santiago Botero era, na altura, o colombiano mais importante do pelotão internacional.

E era até candidato à vitória na Vuelta… Ah!, e outra coisa! A diferença dos fusos horários punha o bom do Alfredo Castro a relatar num ritmo vertiginoso as chegadas das etapas da Vuelta quando eram… 10 da manhã na Colômbia.
Mas tinha um auditório fiel e, sobretudo, com algum peso. Por isso, durante anos, a… Rádio Caracol (é mesmo esse o nome da rádio!) conseguiu patrocínios para estar em França, no Tour, ou em Espanha, na Vuelta.

“Desde España, Rádio Caraaaaaacoooooooooooooooooooooooool! En directo!”

Quantas vezes ouvi eu este grito! Exagerado, mesmo gritado... ao bom estilo sul-americano...
Não sei que é feito do Alfredo Castro!
Os colombianos deixaram de aparecer no pelotão internacional…

O que não aconteceu, por exemplo, com os portugueses.
E toda esta associação de ideias serve para lamentar não termos nenhum OCS no Tour, a acompanhar o Sérgio Paulinho. Que se passará com o meu querido Bruno Santos?!

Se ao menos o Sérgio fosse uma hipotética contratação para as equipas de futebol do Benfica (sai na frente porque ele é, assumidamente, benfiquista), do Sporting ou do FC Porto…

Mas é um simples Corredor.
Ainda por cima… Nunca acusou positivo em nenhum controlo!...

Mas, volto atrás porque este Tesourinho tem mesmo a ver com o… Alfredo Castro.
Por onde andará a Rádio Caracol?

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