quinta-feira, julho 12, 2007

651.ª etapa


MOMENTOS IMPAGÁVEIS. AI QUE SAUDADES!...

Fiquei a saber que a RTP, no seu Canal Memória – só para quem tem serviço de cabo, infelizmente –, está a passar, todos os dias, logo a seguir à meia-noite e durante duas horas (viva o luxo!!!, mas, acima de tudo, muito obrigado!) etapas de antigas voltas a Portugal em bicicleta.

Claro que montei a tenda. Não só para ver, mas para gravar, embora o velhinho gravador de VHS, de há uns tempos para cá me venha a causar problemas. Sei lá… Afeiçoa-se às cassetes que eu me esqueço de ejectar e depois para tirá-las é um deus nos acuda. Nada que uma chave de fendas não resolva, embora corra o risco de arrumar com ele de vez.

Mas vamos ao que interessa. Ontem passaram duas etapas da Volta de 1993. A terceira que eu acompanhei, ainda para A CAPITAL.

Primeiras imagens… Uma fuga. Do Paulo Correia Silva (Carnide), que hoje é massagista das Selecções. E logo a nostalgia. Começando pelas bicicletas, passando aos carros de apoio, aquelas velhas Peugeot que levavam equipa, bicicletas e o mais que houvesse para levar. Como mudou, até hoje, a frota automóvel das equipas nacionais!!! O do Carnide era conduzido pelo presidente do clube, se me não falha a memória, Augusto Costa que, poucos dias antes da partida da Volta, em Loulé, eu entrevistara… num banco de jardim, em Carnide, frente ao restaurante que era, ao mesmo tempo, sede do clube.

E a transmissão da RTP também me fez sorrir. Não na forma de crítica, mas por recordar as condições que então haviam à disposição. Eu próprio ainda levava, não um computador portátil mas uma velhinha máquina de escrever. E resmas de papel, claro.
Pré-história. Digo eu, e em relação ao “meu tempo”.

O curioso é que, até que a fuga foi anulada, o Paulo C. Silva teve exclusividade. Imagens do pelotão… só quando chegou junto às moto-reportagem. Nem mesmo o helicóptero descaía um pouco à procura do grosso da coluna!
O pivot era o Miguel Barroso e os comentários do Alves Barbosa, que o Marco Chagas, nessa altura ainda vinha lá atrás, no primeiro carro da Sicasal, equipa de que era director-desportivo.

Quando o pelotão chegou à frente, a comandá-lo lá vinha o carro do Serafim Ferreira, que nunca abdicou daquela posição – irregular e que chegou a constar nos relatórios do presidente do Colégio de Comissários exactamente como isso, uma irregularidade.

Ao volante, o meu caro Márcio Santos.

A reportagem-moto era feita pelo Pedro Figueiredo (que será feito dele?, vou repetir isto muitas vezes), as reportagens na partida pela Lena Sousa e Silva – que ainda vou vendo, de quando em vez na RTP – ela que foi a segunda mulher jornalista na Volta, substituindo a saudosa Pilar de Carvalho, a pioneira, que morrera dois anos antes, aos 31 anos, com um cancro.

E que melhor maneira para começar do que assistindo a um dos duelos históricos do nosso ciclismo? A etapa terminou ao sprint e, claro, lá estavam o Paulo Pinto (W52-Quintanilha) e o Pedro Silva (Sicasal) que desta vez levou a melhor. A chegada foi em Castelo Branco.

E ver o Carlos Pereira, actual (há vários anos) DD da Barbot, a puxar na cabeça do pelotão com as cores do Bom Petisco-Tavira? E o Américo Silva (Artiach) a lançar o sprint? Acabou na terceira posição.

Depois, as indescritíveis chegadas. Vi passar a moto da Rádio Comercial e, estou quase certo, era o Zé Nunes, o jornalista-móvel.
Mal os corredores passavam a meta, e ainda antes de os jornalistas lá chegarem já estavam rodeados por dezenas de pessoas. Gente que não tinha que estar ali, que complicava o nosso trabalho, presença contra a qual protestávamos, ano após ano mas sem nunca conseguirmos ser atendidos…
O boom das rádios locais. Dez, doze gravadores – ainda eram daqueles “tijolos” – e microfones que escondiam a cara do corredor, ante o desespero do Pedro Figueiredo que ia distribuindo sapatadas para os afastar.

Mas eu ficava a olhar as imagens, à procura de caras conhecidas. Daquele tempo. O Valdemar Afonso, da Lusa (que será feito dele?), o Carlos Ferro, do Diário de Notícias (ainda lá está mas deixou-se de ciclismos), o meu querido Boaventura Bonzinho, que fez a desfeita de nos ter deixado, já este ano...

Frente ao pódio, para tirar as fotos, ainda reconheci o “meu” Filipe Guerra, fotojornalista d’A CAPITAL que me acompanhava, o António Cotrim, da Lusa… Não conseguia identificar todos. Entre a malta das locais, o Sousa Casimiro (Rádio Portalegre), o Nélson Silva Lopes (Rádio Íris)…

De passagem, por trás de toda a gente, reconheci o António Ribeiro, motorista da Agros (caravana publicitária), primeiro, do Martins Morim (A BOLA) depois. Morreria poucos anos depois, quando, com um grupo de amigos jogava futebol num daqueles jogos de solteiros contra casados. Era um bom amigo. Companheiro de muitos jantares, comigo, o seu colega, no furgão da Agros – que distribuía iogurtes as pessoas que estavam na estrada, à espera da corrida –, o Zé Rosa (motorista d’A CAPITAL, almoçámos há alguns meses, está bem, felizmente), o Carlos Alberto ou o Filipe Guerra, os fotojornalistas que me acompanharam.

A Agros patrocinava a camisola da Juventude. Camisola Laranja, que era envergada pelo Quintino Rodrigues, vencedor, em 1992 e 1993 no alto da Senhora da Graça, embora no primeiro ano tenha sido desclassificado por controlo positivo e… relegado para a décima posição. Eram diferentes os regulamentos.

A segunda etapa da noite terminou em Tondela depois de ter passado a serra da Estrela por Manteigas e pelas Penhas Douradas. Ganhou um jovem espanhol da… Kelme. Ao sprint, num pequeno grupo de corredores que apareceu destacado.

As camisolas que iam sendo vestidas aos líderes. Peter Petrov (Bom Petisco-Tavira), a dos pontos quentes; Quintino Rodrigues (Imporbor-Feirense), a da juventude… já lá estavam, no pódio, o vencedor da etapa e o camisola amarela, que era o colombiano Luís Espinosa (Artiach) mas faltavam os líderes dos pontos e das metas volantes. Paulo Pinto tinha-se atrasado na serra, chegou já com a cerimónia a decorrer mas o Stantcho Stanchev (Bom Petisco-Tavira) levou ainda mais tempo a passar a serra (devia pesar para aí uns 80 quilos) e foi cortar a meta e subir para o pódio. Era o líder das Metas Volantes.
O líder da montanha, roubando a camisola azul ao Joaquim Gomes (Recer-Boavista) era outro colombiano, o José Diaz Reyes (W52-Quintanilha), um corredor simpático, sempre disponível para falar com os jornalistas. E um excelente trepador. Morreu dois ou três anos depois, baleado em plena via pública, em Bogotá. Falou-se, na altura, de ajustes de contas entre cartéis rivais do mundo da droga.

Foram duas horas de êxtase puro.
Esta noite vou ver outra vez.
Se puderem… vejam. Os menos jovens porque desfilam ali milhares de recordações, algumas que já tínhamos arrumado no arquivo morto das nossas memórias, os mais jovens para verem como tudo era tão diferente.

1 comentário:

Unknown disse...

O teu colega Pedro Figueiredo, até há uns tempos, julgo que estava na Lusa, na secção de "Política". Mas tu saberás averiguar isso melhor.

Um abraço