terça-feira, julho 17, 2007

663.ª etapa


A DOR DE CABEÇA QUE
JOAQUIM GOMES BEM DISPENSAVA

Não nos admiremos nem critiquemos o Ciclismo português por isto; creio que é algo genético.

O português, quando parece que a vidinha lhe está a correr “demasiado” bem “pela-se” para arranjar problemas.
Sarna, para se coçar, diz o povo.

A mim, nas cada vez menos vezes que ainda vou sendo capaz de acompanhar – defeito meu, com certeza – a onda que enrola na praia que é o Ciclismo em Portugal, já nada me espanta. Também já acredito em muito pouca coisa, diga-se por ser verdade.
Assisto, incrédulo, às brincadeiras que vão dando notícias.
Será a sério?
Será a brincar?
Neste caso quem é que está a brincar com quem?
Onde começa a cadeia e onde se fecha o círculo?

Ponto.1
À falta de melhor, quando as Organizações têm (ou tinham, na altura, para que não me caia o Carmo e a Trindade em cima…) em atraso os pagamentos dos prémios devidos aos corredores e equipas, ainda relativamente ao ano passado (pelo menos!!!); quando, já nesta altura do “campeonato”, há equipas com atrasos nos pagamentos aos seus funcionários… a “grande notícia” soprada e que serviria como entretenimento era a da imposição de um Código de Ética ao pelotão que viesse a correr a Volta a Portugal.
Claro que, muito à portuguesa, “estava tudo resolvido… só faltava o dinheiro”.

O estranho, estranho, estranho… muito estranho mesmo, é o facto de o Código de Ética (ver A BOLA de 15 de Julho, Pág. 41) ter sido “aprovado” pelas… equipas.

Eu tinha chegado a acreditar que fora uma iniciativa do Organizador.

É de importância extrema o papel da CS, principalmente nestes casos propensos a polémicas.

De facto, a ideia terá mesmo partido da Organização que depois tratou de juntar todos os interessados. E, desde o início que a Associação Portuguesa de Corredores Profissionais, deixou bem sublinhados os pontos que contestava.

Pensava-se que o primeiro objectivo, a partir daí, seria o de tentar aproximar as partes de forma a conseguir-se, se era esse mesmo o desejo, um acordo passível de ser assinado por todos.

Ponto 2.
Se o que está em causa é a assinatura de um compromisso por parte de todas as… partes, porquê uma notícia sobre a “aprovação” por parte da Associação Nacional de Equipas de Ciclismo Profissionais (ANECP)?

E como é que a entidade representativa… dos patrões tem a coragem de reunir para decidir… por todos?
Dá vontade de perguntar: digam lá outra vez?
Aprovaram o quê?

Isto porque, como é óbvio, à ANECP não pode ser reconhecida a representatividade em relação ao todo do pelotão da Volta a Portugal onde metade das equipas é estrangeira.
Fogo de vista, apenas.

Não há meias notícias.
É contrário ao espírito do que se assume como Jornalismo “dar” a opinião de uns, mesmo que essa opinião tenha nascido de uma reunião plenária, quando essa parte, por si só não é – porque o não pode ser – vinculativa.
Há as outras partes.
Que, por mais que não seja, devem ser respeitadas.

“Notícias” a conta-gotas é algo que não deveria ser admitido.
Embora cada vez mais tenhamos que conviver com isso.

Aliás, já aqui escrevi a “anedota” do colaborador que um dia envia para o jornal a notícia de que o jogador “xis” foi contratado – somando o crédito monetário equivalente ao espaço da notícia – para no dia a seguir se desmentir, mas ganhando o mesmo crédito monetário pela nova… “notícia”.

Ponto.3
Já toda a gente sabia, e a confirmação estava à distância de nove dígitos – um número do telefone –, que a APCP tinha sublinhado meia dúzia de itens, no tal Código de Ética avançado pela Organização e de cuja aprovação não abria mão.
Era irrelevante a posição (???) da associação de equipas.
Perfeitamente irrelevante.
E, claro, a APCP denuncia qualquer espécie de acordo.
(Ver artigo imediatamente anterior a este).

Seria vergonhoso – repito: vergonhoso – que se aprovasse um “Código” coxo.
Sim, porque o pelotão da Volta será, mais ou menos na sua metade, composto por equipas que não estão sob a jurisdição da ANECP.

Ponto 4.
Sobrava ainda a posição do Organizador.
Mas é perfeitamente insano pensar que a Organização pudesse vir a ceder às pretensões das equipas nacionais.

O que, aliás, ficou provado o ano passado quando – ainda que muito timidamente (a ANECP ainda não era juridicamente reconhecida) – se tentou em relação à Comunitat Valenciana.

Acaba em folclore o dar espaço à inqualificável posição das equipas, num dia… ir até (muito bem, muito bem) à posição da organização internacional das equipas no quadro actual, Portugal não pode ver reconhecida uma associação de equipas profissionais pois só temos UMA equipa profissional à luz dos regulamentos internacionais – que descarta a patética pretensão da ANECP, chamando o seu presidente, Victor Cordero, a atenção para o facto de que, “se um corredor está na posse da sua licença (porque não foi alvo que qualquer sanção disciplinar) não pode ser impedido de correr" para, amanhã ser obrigada a desfazer tudo já que a APCP, que tem a Lei pelo seu lado, e perante tanto contorcionismo, não aceitar – liminarmente não aceitar – o tal Código de Ética.
Lógico.

Porque é que metade do pelotão se teria de sujeitar a determinadas obrigações se a outra metade a tal não pode ser obrigada?
Sobra uma única saída, mas isso já tem a ver com a UCI: fazer os testes de hematócritos nas 48 horas anteriores ao início da corrida a TODOS os corredores que nela vão participar.
É que até nos controlos surpresa a CNAD – Comissão Nacional Anti-dopagemnão tem autoridade jurídica para controlar corredores de equipas não portuguesas.

Portanto, e para terminar, resumindo tudo, aconteceram erros em todo este processo.

- Se fosse, de facto, essa a vontade da organização, teria de ter avisado as equipas logo nos convites que, atempadamente (o que significa há 5, seis meses atrás) lhes endereçou que “gostaria” que não escalassem para a corrida portuguesa um ou outro corredor, tentando justificar o porquê da descriminação.
Agora, depois de as equipas terem trabalhado os SEUS escolhidos tendo em vista a Volta, não o pode fazer.
Até porque, como é habitual em qualquer contrato, há-de haver cláusulas de incumprimento, quer duma parte, quer da outra, incumprimento que será remissível em dinheiro sonante.

- A posição da ANECP tem tudo de gato escondido com rabo de fora
Quer, ou quereria (mas revela um vergonhoso desconhecimento dos regulamentos) ver-se livre da concorrência de corredores que serão sempre candidatos ao triunfo final da Volta.
Assumindo isto, é ainda mais vergonhoso a falta de confiança nos seus próprios Corredores e técnicos.
A originalidade - bem à portuguesa - é que o presidente da Associação dos Patrões do ciclismo é um… assalariado de uma das equipas. E é técnico…

O José Santos deve, amiude, viver uma situação semelhante àquela rábula da Revista à Portuguesa em que a inesquecível IVONE SILVA fazia de Olívia empregada e Olívia patroa...

Antes de terminar, com a posição da APCP, e juntando as duas notícias que li fico com vontade de arrepelar os últimos cabelos que me restam

Então… e sempre tendo como fiável a notícia de que a ANECP gostaria de por uns preguitos no caminho das equipas estrangeiras convidadas – porque têm no plantel presumíveis implicados num cambalacho que as autoridades disciplinares, no seio da UCI, ainda não foram capazes de provar – a formação de um dos vice-presidentes da mesma ANECP aceita ir correr no México juntamente com… a Relax-GAM e a Fuerteventura-Canárias?
Expliquem-me isso por favor…

Em relação à posição da Associação de Corredores, verifico, com natural agrado, que tem sido a única a manter alguma coerência.
E, como já terão lido no artigo anterior corta a direito – e às vezes é preciso mesmo cortar a direito –, NÃO ACEITA subscrever este aborto a que se chamou Código de Ética.


Sabem que hoje recebi no meu mail mensagens de três corredores de topo, qualquer deles candidato a ganhar a Volta, renegando esta anedota de Código de Ética? É verdade.

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