sábado, julho 14, 2007

655.ª etapa


FAZ AMANHÃ 28 ANOS QUE
JOAQUIM AGOSTINHO
VENCEU NO ALPE D'HUEZ

Os grandes heróis da História do Ciclismo fizeram-se nas grandes montanhas, naquelas etapas que, à primeira vista, nenhum ser humano seria capaz de vencer. Porque o fizeram, muitos atingiram o Olimpo. Claro que há outras formas de alcançar a imortalidade. Ganhar cinco vezes o Tour elevou ao estatuto de estrela, primeiro Jacques Anquetil, depois Eddy Merckx, a seguir Bérnard Hinault e ainda Miguel Induráin, antes que Lance Armstrong elevasse a fasquia até às sete vitórias. Consecutivas.

Todos eles aparecem no primeiro patamar num hipotético pódio gigante.
A partir da que ficará chamada era-Induráin - depois reeditada por Lance Armstrong - passámos a ter corredores mecanizados, que se preparavam como máquinas com um único objectivo, e como o conseguiram, desviaram as atenções de muitos outros feitos conseguidos por muitos outros corredores que passaram a ver a sua estrela brilhar menos cintilante e por muito menos tempo porque, lá está, outra estrela bem mais forte acabava por a ofuscar.

Mas as pessoas lembram-se de Marco Pantani, de José Maria Jimenez, de Roberto Heras… de Richard Virenque que, mesmo nunca tendo sido imperial nas grandes montanhas, foi por seis vezes o rei dos trepadores do Tour.
E Gilberto Simoni, que foi o primeiro a vencer o Anglirú?

Ainda há quem se lebre de Chris Boardman, recordista da hora; ninguém esquecerá Mario Cippolini, aquela máquina de ganhar sprints… mas, voltemos às montanhas. É mesmo da rocha da montanha que se esculpem os maiores, os grandes heróis dos adeptos do ciclismo.

E entre todas as grandes montanhas – Anglirú, Mortiloro, Zoncolan, Galabier, Aubisque, Envilara, Lagos de Covadonga, Pajares, Sierra Nevada, Arcalis, Cerler… Estrela, Senhora da Graça – há uma que, só por sí, já é mitológica.
E, claro, quem lá ganha entra directamente para o panteão dos grandes campeões.
É o Alpe d’Huez.
Onde, faz amanhã, precisamente, 28 anos que lá venceu o nosso Joaquim Agostinho.

Leio o texto do António Simões, no livro “Joaquim Agostinho, uma lenda do Centenário”, ed. A BOLA:
“A montanha que nunca mais acaba. Que sobe, em serpente, até ao tecto do Tour, por entre rochas e curvas, sem pinheiros nem abetos, vertiginoso “décor” de teatro – teatro de homens que, mais do que desafiarem-se a si próprios, desafiam todos os deuses, todos os demónios…”

E logo a seguir: “Agostinho já isolado, rosto perlado pelas gotas de suor do desejo de ser primeiro, de ser maior, tronco colado ao quadro da bicicleta, que naquele cenário talvez pesasse mais de uma tonelada, a vontade, o empolgamento a desenrolar-se pela estrada a caminho do céu, para lá dos 1800 metros de altitude…”

E mais à frente: “A vertigem da meta, de imaginá-la, acelerou-lhe o sangue nas veias. E a raça no coração. Agostinho cortou, enfim, o risco branco do sonho. ‘Como se fosse de motorizada’, alguém empolou. Desceu da bicicleta ainda com força para um sorriso. Debruçou-se sobre ela, como se lhe agradecesse a dádiva. O paraíso. E depois foi o tempo da lágrima na recordação da queda da “terça-feira negra” em que quase tudo se ia perdendo – deixando que se pensasse que se não se molhassem os olhos a alma nunca teria arco-iris. Hinault… Zoetmelke… só apareceram três minutos depois. Esmagados pela dor de subir. Olhou para eles com a olímpica complacência de quem talvez não tenha percebido o alcance do eterno momento de glória que acabara de apanhar. Que haveria de perpectuar-se com o nome dele numa das 21 curvas que fazem o mito, que fazem o Alpe d’Huez.”

Ainda mais à frente: “Esbaforido, surgiu a correr um jornalista de uma rádio francesa – que interrompeu o diálogo entre Joaquim Agostinho e Carlos Miranda [jornalista de A BOLA que acompanhou praticamente toda a carreira internacional de Agostinho]. ‘Você hoje ganhou duas etapas: a de Alpe d’Huez e a de ter 36 anos…’.
Agostinho brincou: "Olhe que é mais um, senhor! São 37…”

Isto foi no dia 15 de Julho de 1979.
Faz amanhã 28 anos.
Para perpectuar a sua memória foi colocado, na 14.ª curva um baixo relevo, cuja imagem reproduzo aqui, e não uma “grandiosa estátua”, como li há dias atrás.

Recordo aqui parte da história desta que é uma das míticas etapas, entre todas as que se disputam, por todo o Mundo.
A começar pela vitória de Joaquim Agostinho.


15 de Julho de 1979, 17.ª etapa do Tour
LES MENUIRES-ALPE D'HUEZ, 166.5 km
1. Joaquim Agostinho, 6.12.55 horas
(média : 26.788 km/h)
2. Alban a 1'57"
3. Wellens a 2'45"
4. Laurent a 2'48"
5. Bernaudeau a 3'17"
6. Nilsson a 3'19"
7. Battaglin
8. Hinault
9. Zoetemelk
10. Martin a 3'34"
11. Didier a 4'07"
12. Lubberding a 4'31"
13. Bittinger a 5'27"
14. Deschoenmaecker a 5'36"
15. Van Impe a 5'56"
16. Vallet a 6'06"
17. Martinez a 6'41"
18. Thurau a 6'42"
19. Van der Velde a 6'44"
20. De Carvalho a 7'12"
21. Van Calster a 7'31"
22. Julien a 7'33"
23. Knetemann a 7'35"
24. Galdos a 7'47"
25. Pozzi a 7'50"
26. Criquielion a 7'55"; 27. Schepers a 8'15"; 28. Martens a 8'18"; 29. Kuiper, mt; 30. Maas a 9'11"; 31. Chaumaz a 9'36"; 32. Verlinden a 9'39"; 33. Den Hertog a 9'56"; 34. Parsani a 10'07"; 35. Meslet a 10'32"; 36. Villemiane a 10'42"; 37. Jourdan a 10'57"; 38. Bazzo a 11'03"; 39. Becaas, mt; 40. Seznec a 11'15"; 41. Knudsen a 11'34"; 42. Vanoverschelde, mt: 43; Chassang a 12'04"; 44. Duclos-Lassalle a 12'14"; 45. Bourreau, mt; 46. Michaud, mt; 47. Sanders, mt; 48. Kelly, mt; 49. Vanzo a 12'52"; 50. Mathis a 12'55"; 51. Bossis a 13'03"; 52. Pronk, m.t; 53. Peeters a 13'34"; 54. Pollentier, mt; 55. Santoni a 13'48"; 56. Legeay a 13'52"; 57. Jacobs a 14'17"; 58. Sherwen a 14'37"; 59. Bonnet a 14'41"; 60. Michel, mt; 61. Friou a 14'50"; 62. Demeyer a 14'52"; 63. Devos, mt; 64. Garcia, mt; 65. Alfonsel; mt; 66. Hézard a 15'16"; 67. Borguet a 15'53"; 68. Mijngheer a 16'00"; 69. Mollet a 16'01"; 70. Leali a 16'45"; 71. Teirlinck à 17'34"; 72. Dillen, mt; 73. Le Guilloux à 17'53"; 74. Chalmel, mt; 75. Arbes, mt; 76. Delcroix a 18'11"; 77. R.Pevenage a 18'20"; 78. A. Van Linden a 18'50"; 79. Oliva, mt; 80. Schoenbacher a 19'12"; 81. Lelay a 19'14"; 82. Levavasseur, mt; 83. Gauthier a 19'34"; 84. Mutter a 20'35"; 85. Pescheux a 20'45"; 86. Verschuere, mt; 87. Beucherie, mt; 88. Balbuena, mt; 89. Tesnière a 21'51"; 90. Thévenard a 22'21"; 91. De Cauwer a 22'22"; 92. Gallopin a 23'05"; 93. Bellet a 24'33".

Todos os vencedores no Alpe d’Huez
1952 – Fausto Coppi (Ita) *

1976 – Joop Zoetemelk (Hol)
1977 – Hennie Kuiper (Hol)
1978 – Henni Kuiper Hol)
1979 –
JOAQUIM AGOSTINHO
1979 – Joop Zoetmelke (Hol)
1981 – Peter Winnen (Hol)
1982 – Beat Breu (Sui)
1983 – Peter Winnem (Hol)
1984 – Lucho Herrera (Col)
1986 – Bérnard Hinault (Fra)
1987 – Féderico Échave (Col)
1988 – Stephen Rookes (Hol)
1989 – Gert-Jan Theunisse (Hol)
1990 – Gianni Bugno (Ita)
1991 – Gianni Bugno (Ita)
1992 – Andrew Hampsten (EUA)
1994 – Roberto Conti (Ita)
1995 – Marco Pantani (Ita)
1997 – Marco Pantani
1999 – Giuseppe Guerini (Ita)
2001 – Lance Armstrong (EUA) *
2003 – Iban Mayo (Esp)
2004 – Lance Armstrong (EUA) *
2006 – Frank Schleck (Lux)
(*) – Ganharam também essa edição do Tour.
Não foram muitos!...

Os melhores tempos
a partir do início da subida,
em Le Bourg d’Oisans,
até à meta, 14,4 km depois
1.º, Marco Pantani (Ita/1995), 36.50 minutos
2.º, Marco Pantani (Ita/1994), 36.51 m
3.º, Jan Ullrich (Ale/1997), 36.55 m
4.º, Pedro Delgado (Esp/1987), 37.56 m
5.º, Marco Pantani (Ita/1977), 37.10 m
6.º, Miguel Induráin (Esp/1995), 38.0 m
7.º, Lance Armstrong (EUA/2001), 38.10 m
8.º, Pedro Delgado (Esp/1984), 38.10 m
9.º, Lance Armstrong (EUA/2004), 38.15 m
10.º, Richard Virenque (Fra/1997), 38.20 s

E como se safaram
os portugueses no Alpe d’Huez?

1976 - 7.º, José Martins, a 1.50 m
1977 – 8.º, Joaquim Agostinho, a 8.44 m
1977 - 18.º, Fernando Mendes, a 12.39 m
1977 - 27.º, José Martins, a 18.26 m
1878 - 4.º, Joaquim Agostinho, a 1.34 m
1978 - 22.º, José Martins, a 9.39 m
1979 – 4.º, Joaquim Agostinho, a 1.05 m
1981 – 32.º, Joaquim Agostinho, a 12.54 m
1983 – 19.º, Joaquim Agostinho, a 6.54 m
1984 – 94.º, Marco Chagas, a 20.31 m
1984 – 126.º, Carlos Marta, a 29.21 m
1984 – 130.º, Eduardo Correia, a 30.42 m
1984 – 131.º, Manuel Zeferino, a 31.17 m
1984 – 133.º, José Xavier, a 32.24 m
1987 – 82.º, Acácio da Silva, a 20.40 m
1988 – 115.º, Acácio da Silva, a 29.43 s
1989 – 106.º, Acácio da Silva, a 23.35 m
1990 – 143.º, Acácio da Silva, a 30.00 m
1992 – 81.º, Acácio da Silva, a 30.04 m
1997 – 12.º, Orlando Rodrigues, a 3.30 m
2003 – 36.º, José Azevedo, a 9.29 m
2004 – 4.º, José Azevedo, a 1.45m (*)
2006 – 48.º, José Azevedo, a 7.15 m
(*) – corrida em forma de crono individual

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