terça-feira, julho 17, 2007

661.ª etapa


A DIFERENÇA ENTRE FESTA PURA
E FESTIM A DAR PARA O ALARVE

Comecei a escrever este artigo como comentário ao anterior. É evidente que voltei atrás para acrescentar estas linhas introdutórias porque… me decidi transformar o comentário num novo artigo. Não, não é para somar muitos artigos. O patrão não me paga à peça!...

O que a S. nos conta é um pedaço de festa. Ela não o diz, por isso é pura especulação minha, aquelas pessoas que estavam junto à Câmara Municipal de Viena deslocaram-se lá para se divertirem, assistindo a um espectáculo desportivo que, no caso, era o Ciclismo. Sem dramas, sem histerias… sem tragédias.

Também se adivinha que o Ciclismo não será, na Áustria, a modalidade que congrega mais adeptos. Sabê-mo-lo bem que não.

Mas o retrato que foi deixado deixa-me adivinhar um princípio de um fim de tarde agradável. Participado – não sei se repararam mas a S. nem falou do vencedor, e eu creio que o fez de propósito, não era o mais importante – numa postura olimpicamente correcta. Aposto que estariam famílias inteiras… Acredito que ninguém atropelou ninguém para ganhar o tal saco-prémio.

Não conheço nenhum país do centro da Europa. Aliás, para além dos latinos, só estive na Bélgica – frios, mas completamente loucos pelo Ciclismo – e na Noruega, mas aí fui cobrir um jogo de futebol.

Não conheço, mas a estória da S. encaixa perfeitamente naquilo que julgo saber deles.
A parte de elevar ao estatuto de “aplaudíveis” os próprios polícias é deliciosa.

Nós cá também nos rimos muito, principalmente quando o agente da BT exagera nas gincanas e se espalha ao comprido… Feitios!
(Ah!... aconteceu mesmo este ano na Volta ao Algarve, vá lá que o pobre do homem saiu bastante mais ferido no amor próprio que fisicamente…)

De resto, e quanto a algumas das outras revelações da S., em definitivo não são aplicáveis por cá. E acho mesmo que não fariam sentido.
A realidade é outra, bem diferente e ainda bem.

S., não estou a criticar-te, pelo contrário. Também, estou para aqui com paninhos quentes quando sei perfeitamente que me entendes…
Passemos à frente.

A hipótese de haver uma classificação especial para o melhor português na Volta está fora de questão. Temos, temos tido e vamos, com certeza, continuar a ter, corredores lusos capazes de ganhar a Volta. Frente seja a quem for. Basta que se assuma a atitude correcta.

Mas… essa ideia venho eu a defender há que tempos para as corridas regionais.
Estamos limitados, é um facto.

Com dois profissionais alentejanos no pelotão (e nenhuma equipa sedeada no Alentejo) seria anedótico implementar isso na Alentejana. Já no que respeita à Volta ao Algarve não me chocaria nada (nem que fosse ao melhor corredor de uma das equipas algarvias, algarvio, português ou... nem por isso!...)

E digo o mesmo em relação ao Troféu Joaquim Agostinho, alargando o território autóctone a todo o Oeste.

Infelizmente, no Minho lançaram a toalha ao chão e, aquela prova que era, de facto, o último e verdadeiro grande teste para a Volta a Portugal, primeiro deixou de ser internacional, depois deixou… simplesmente de ser.

Do texto da S. retiro, contudo, uma ideia que bem que podia ser implementada na Volta. Ok… já se falou demasiado nisso, eu já deixei a minha opinião – até já voltei atrás e acabei por reconhecer que a organização tem o direito de explorar a imagem da corrida como melhor lhe aprouver – mas…

Se a presença, nas partidas e chegadas, de toda a fauna, cada vez mais híbrida, que se polariza na chamada imprensa cor-de-rosa tem mesmo que aparecer… que os deixem respingar à vontade para as câmaras dos paparazzi e respectivos escribas que não são mais do que apêndices daqueles.
Eu sei que o povão gosta. Mas – eu sempre disse isto – o povo aceita aquilo que lhe dão.

E ao público que vai pelo Ciclismo… a ideia dos “quiz”, com perguntas de algibeira sobre o Ciclismo, ou só sobre a prova e os Corredores que nela participam… seria, tenho a certeza, um grande êxito.

Quer um boné? Ok… quem ganhou a etapa de ontem?
Onde é que termina a etapa de amanhã ou quem é o actual camisola amarela?
Isto sim, é UMA IDEIA.

E chegar a casas com uma t’shirt ou um boné “ganho” porque soube responder a uma pergunta há-de ser muito diferente do ter conseguido os mesmos troféus porque, à bruta e à força do empurrão e de tudo, menos o tirar olhos (o que nem sempre é garantido que não aconteça), se conseguiu pular por cima de meia dúzia de parolos que nem saltar sabem.

Mas aqui já entra a diferença do conceito do que é estar-se desportivamente numa partida ou numa chegada de uma corrida de Ciclismo.

Num país civilizado, como a Áustria, é uma festa.
Em Portugal – mormente no que se refere ao conseguir-se mais quatro ou seis bonés que o vizinho do lado – é um acto de afirmação.

Quando se o não consegue de outra forma… é ao empurrão e, de preferência, sob gritos de ameaças ou adjectivos que mimoseiam a família mais próxima do acidental adversário.

Feios, porcos e maus.
Sempre.

1 comentário:

SG disse...

Madeira, ainda bem referiste isso. Eu esqueci-me de o vincar no meu texto anterior: ao afirmar que algumas das opções são adequadas, eu estava a referir-me obviamente à realidade local (ainda que não só à austríaca).

Ah... quanto aos adeptos, havia - como há em qualquer evento diurno (e até em muitos nocturnos)cá - muitas famílias, mas também bastantes adeptos de ciclismo. E até uma senhora com (garantidamente) mais de 80 anos capaz de debitar os nomes de todos os grandes ciclistas do pelotão internacional que participaram num critério cá da terra nos últimos anos mais depressa do que eu os nomes dos campeões do mundo dos últimos 5... ;)