quinta-feira, julho 12, 2007

649.ª etapa


MAS NÃO SE PODE DEMITI-LO?

O que vos venho propor é um mero exercício de… “faz-de-conta”.

Faz-de-conta que o ministro da Administração Interna, responsável máximo pelas polícias, quem pode ordenar à estrutura hierárquica – estruturalmente sob a sua alçada directa – que investigue, indicie, prenda e entregue ao Ministério Público toda a gente que cometa actos ilícitos, aproveita uma entrevista para dizer este… “faz-de-conta”:

- Os media, e principalmente as televisões, também deviam fazer as suas investigações e, mais importante ainda, abster-se de dar cobertura a todo e qualquer evento onde se possam encontrar presumíveis implicados em seja lá o que fôr.

Faz-de-conta que, numa visita do PR ou de qualquer elemento do Governo a seja que evento for… é passível que, nas imagens - nem que seja aquele senhor lá ao fundo, de fato castanho, que se “esqueceu” de declarar meia dúzia de itenzinhos no IRS, ou que ainda não pagou o IRC, quiçá… até tem dívidas para com a Segurança Social - possam aparecer... batoteiros. Logo, as televisões deviam desligar as câmaras, os jornais absterem-se de noticiar a visita, as rádios calarem-se.
Não se via “aquele” senhor, nem muitos outros que, não sabemos mas que não estamos seguros que tenham cumprido com todos os seus deveres para com a Sociedade.

Qualquer coisa do género: se não os virmos, deixam de existir. Se não existem, para quê as polícias e, escalando na tal hierarquia, o Governo, se há-de preocupar em procurar provar que são incumpridores e, provando-o, castigá-los na devida proporção do seu ilícito.

Faz-de-conta que isto acontece!

Pois. É que aconteceu mesmo.
Noutro enquadramento, claro, mas comecei com aquela estória inverosímil para carregar o anedótico – para não falar no mau gosto – das declarações do senhor Dick Pound. O chefe máximo da Agência Mundial Anti-dopagem.

De cofres cheios, com dinheiros que vão das contribuições dos vários Estados, via respectivos departamentos nacionais que têm como função a prevenção e luta em relação ao flagelo que é o doping, mais o dinheiro que, no Ciclismo, por exemplo, equipas e corredores são obrigados a… doar para o mesmo efeito o, digamos, chefe-supremo da Polícia Mundial contra o Doping veio defender que o que fazia falta era que as televisões ignorassem – neste caso, o Tour – para não patrocinarem um evento, cito: “Não desportivo mas farmacológico.”
Lá está… se os media não mostrassem, não falassem, o mal deixava de estar exposto, não se via logo… não existia.

Já tardava, mas chegou. A proverbial tese de que a “culpa é da CS”.
Nem mais.

E se a AMA fizesse, de preferência bem feito, o seu trabalho?
Se, em tempo útil, desmascarasse – mas de facto, sem deixar margem para dúvidas – os prevaricadores livrando o grosso do pelotão de uma suspeita que, tal como as coisas estão, cai sobre toda a gente? Não foi para isso que foi criada?

Por estas declarações o senhor Dick Pound já ganhara, se as coisas fossem como noutros tempos, um bonito par de Orelhas de Burro e passava o resto da aula sozinho, a um canto, virado para a parede.

Mas como – e é um fenómeno ainda não cientificamente explicado – quando se diz uma asneira, é normal que outras se lhe sigam em passo de marcha, o tal de Pound acrescentou uma das barbaridades mais barbudas que já tive oportunidade de ler.

Foi, mais ou menos isto: “Os controlos actualmente são frouxos. Fazem-se controlos às seis da manhã, as etapas começam ao meio dias, logo, os corredores ainda têm seis horas para se doparem à vontade.”

Com esta não se livrava de uma boa dúzia de palmatoadas. Se não começasse a choramingar, porque senão dobrava-se o castigo.
Pô-lo a subir o Alpe d’Huez numa bicicleta sem mudanças também seria um castigo giro.

Mas não se pode demiti-lo?

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