segunda-feira, julho 23, 2007

706.ª etapa


BOA SURPRESA, LOGO DILUÍDA
POR UMA IGNORÂNCIA
QUE CHEGA A RAIAR O RIDÍCULO

Fui hoje surpreendido com o conteúdo do espaço que diariamente ocupa o director de um dos “desportivos”. Porque apela ao “reatamento da paz” com o Ciclismo. Isto a propósito do Tour. Chama a atenção para o espectáculo extraordinário que o pelotão tem vindo a proporcionar e até relevo o facto de não ter resistido ao julgamento fácil daqueles que, de um modo ou outro, estão envolvidos em casos paralelos de disciplina. Que não são mais do que isso. Problemas disciplinares, o que pressupõe a existência de uma instrução, uma acusação e, depois, se os argumentos se sustentarem, o definitivo castigo… disciplinar.
Que o não esqueça nas próximas oportunidades.

Mas eu tinha mesmo razão ao começar por “desconfiar” daquele pequeno texto, ao qual não nego, contudo, a intenção de descomplicar um pouco a confusa batalha que se desenrola em terrenos não definidos, com alguma falta de estratégia minimamente consistente e com a CS completamente desnorteada, correndo a publicar tudo aquilo que as agências internacionais põem em linha.

Infelizmente, leio num outro “desportivo” que Patrik Sinkewitz (T-Mobile), está “de rastos” porque, acabado de sair do hospital, onde teve que recolher depois de uma queda grave, se vê julgado publicamente quando, e a informação vem na mesma notícia, o resultado da habitual contra-análise não será conhecida antes do próximo dia 28.
Já aqui o escrevi.
São raríssimas – mas há casos que dizem o contrário – as situações em que o resultado da segunda amostra contraria o da primeira, mas manda o bom senso que, enquanto o “arguido” tem uma hipótese de poder vir a ser considerado inocente se não o julgue publicamente.

E reitero outra coisa que já aqui deixei escrito: se há um número mínimo de pessoas com acesso aos resultados destas análises; se está previsto nos regulamentos que, antes de efectuada a contra-análise não há “positivos”, como é que estas notícias chegam ao público?

Há uma coisa que não deixa dúvida alguma, é alguém, dentro da chamada família do Ciclismo, que – vá lá saber-se com que motivação – denuncia estas situações.
Mas também já escrevi múltiplas vezes, aqui no VeloLuso, que o Ciclismo tem uma tendência para a autofagia que eu não consigo explicar.

Mas voltemos às primeiras linhas deste artigo.
O tal escrito do director de um dos “desportivos”.
Depois de uma no cravo… duas na ferradura! E cada uma delas mais infeliz que a outra.
Começando pelo fim… cito: “Vinokourov que este ano se enganou no Receituário.”

Não somos tolos e percebemos a mensagem.
Receituário = receita, receita > medicamentos; medicamentos >… doping.

Não podia ter caído nesta “armadilha” e estas situações só acontecem porque as pessoas – e os jornalistas são pessoas – estão “intoxicadas” com as míriades de notícias (quantas acabam, realmente, por ser comprovadas?) sobre casos de doping. Ou de apenas suspeitos de terem recorrido ao uso de produtos ou alinhado em práticas proíbidas.
Mas o Alexandre Vinokourov não merecia esta… alfinetada.

Não vai ganhar este Tour, isso já é definitivo, mas qual é, de verdade, e em consciência, a grande figura desta corrida? É o Vinokourov.
Vítima de quedas, com consequências significativas, arredado do seu principal, grande, único objectivo para esta temporada (único não será porque estou em crer que vai apresentar-se na Vuelta para ganhar de novo…), sem hipóteses de se chegar aos primeiros ele fez, no passado sábado, um contra-relógio só ao alcance dos grandes campeões.

E, já agora, sublinho isto: o Alexandre Vinokourov andou dias a sofrer um sofrimento a que muito poucos se sujeitariam, e isso já diz algo sobre a sua personalidade e o seu profissionalismo.

Céus!... Imaginem alguém a pedalar centenas de quilómetros com ambos os joelhos entrapados. Conseguem? Há, na história, algum antecedente? Que eu saiba não…
E como será andar centenas de quilómetros a pedalar com os DOIS joelhos entrapados. Alguém consegue medir a intensidade do sofrimento deste homem?
Imaginem um jornalista com ambos os braços partidos.
Será que se apresentava ao seu trabalho e conseguia escrever?

Depois, e sem que me sinta nem um décimo de milímetro diminuído, chamo aqui a opinião do homem que em Portugal melhor comenta o Ciclismo, o Marco Chagas. Na sexta-feira dizia o Marco que, tenha sido conscientemente ou não, a Organização do Tour “armadilhara“ [a expressão é minha] o final da segunda semana da prova.

O contra-relógio individual, largo, de 54 quilómetros, na véspera da primeira etapa nos Pirinéus, era mesmo uma armadilha. E, quem viesse a empregar-se a fundo no crono de sábado, dificilmente conseguiria recuperar em pouco mais de doze horas para a primeira etapa pirenaica.
Claro que o Marco, sabedor, tinha razão.

Arredado da discussão dos primeiros lugares, Alexandre Vinokourov esgotou-se no crono de sábado. E, sendo um corredo, frio, que traça objectivos claros, estou amplamente convencido que ele já sabia que no domingo não conseguiria intrometer-se na luta dos primeiros. Mas puxou do seu inegável brio profissional e reduziu aquela que – não tivessem sido os azares acumulados antes – seria a sua concorrência directa a pouco mais que… zero.
No Domingo pagou a factura!

Mas é preciso ter o mínimo de luzes acerca disto que é o Ciclismo para compreender isto. Limpem da vossa cabeça tudo o que sabem, ou julgam saber, sobre ciclismo.

Conseguem agora conceder a Alexandre Vinokourov o devido valor pelo que conseguiu no Sábado?
Conseguem?
Parabéns.
Sabem um pouco mais de Ciclismo do que aquilo que vocês próprios acreditariam.

Mas lá está… Nunca se sabe tudo de tudo.
Há sempre lugar para uma surpresa e essa chegou-nos hoje mesmo, com o mesmo Vinokourov. Naquela que era considerada a raínha das etapas o cazaque voltou a deixar a sua marca.
A marca de um corredor que hoje em dia não tem rival.

As coisas não lhe correram bem… mas também há “heróis” do chuto-na-bola que falham penalties ou, sendo guarda-redes, consentem frangos inadmissíveis. Sem terem tido que ir com os costados ao chão. Sem sentirem as carnes rasgadas pelo asfalto. Sem terem que se levantar e continuar, como se nada tivesse acontecido.
Anotem esta parte.

Arredondar os mil caracteres que escreve diariamente com um “engano no receituário”, para além do mau gosto, para além de revelar ignorância, cai na acusação gratuita. Sem prova sustentável e, o pior de tudo, sem respeito para com um atleta que é, de longe, um dos grandes profissionais do Ciclismo dos dias de hoje.
Não havia necessidade.

E, continuando a referir-me ao mesmo artigo, que dizer à inqualificável citação sobre a prestação de Sérgio Paulinho?
Mesmo descontando que o senhor, que é jornalista há 40 anos, ou há 50, ou há 120 anos… percebe tanto de Ciclismo como eu percebo da cultura de tulipas negras, não é coisa que se diga.

“Tem gelatina nas veias”?

Será que este senhor não é o protótipo daquela figura de anedota que, querendo atingir um adversário parlamentar – diz-se que a história é real e aconteceu mesmo no parlamento brasileiro – lhe disse que o que acabara de ouvir lhe entrara por um ouvido e lha saíra pelo outro, obteve como resposta um… “Isso é impossível, porque está cientificamente provado que o som não se propaga no vácuo”?
Parece que se ajusta ao molde. Deixei de acreditar que tenha alguma coisa entre uma orelha e outra...

E “chamo”, outra vez, em minha “defesa”, espero que percebam que isto é algo encenado, a sabedoria do Marco Chagas (eu não me canso de o ouvir e, porque quero todos os dias saber um bocadinho mais do que no dia anterior, não dispenso uma migalha que seja dos seus comentários – há outras “figuras” que, sem nunca terem produzido uma opinião sustentada, nada que vá além do mero palpite, ainda não perceberam que o seu tempo acabou).

Ainda temos mais uma etapa – e que etapa… – nos Pirinéus. Apesar de ter vindo a demonstrar que não vai ser fácil derrubá-lo do primeiro lugar, a verdade é que a posição de Michael Rasmussen na tabela classificativa ainda não lhe garante cândidas noites de sono. E… imagine o senhor em questão, imaginem todos os outros, que Alberto Contador consegue, depois de amanhã, sacudi-lo do primeiro lugar do pódio?
O que é que isso tem a ver – perguntar-se-á o senhor que teve a latarepito, a lata, de dizer que nas veias do Sérgio Paulinho corre… geleia – ?

Tem a ver que Contador precisará depois, e nas etapas – contra-relógio à parte – que sobram, de poder contar com TODA a equipa em condições de trabalhar para ele. Trabalho que nunca será menos do que extenuante.
Está claro para todos os que percebem o mínimo de ciclismo.

Nestas duas primeiras etapas nos Pirinéus, só um homem da Discovery Channel teve de dar o corpo ao manifesto. Foi George Hincapie.
Se na 5.ª feira – e as ameaças já foram tantas que eu fiquei convencido de que Contador vai ser capaz de sacudir Rasmussen do primeiro lugar na etapa do Aubisque – se cumprir o que eu antevejo, o Sérgio Paulinho vai voltar à cabeça do pelotão. Mas mesmo que nada disto venha a cumprir-se… não tem, um não iniciado, que encher “chouriços” com todos os disparates que lhe assumam à cabeça.

Não sou a favor do branqueamento de algumas prestações dos portugueses além fronteiras. Não sou. Acho que, fundamentadas, as críticas, lidas como construtivas só podem ajudar. Mas alguém que já confessou que está de “papo para o ar” numa praia algures em Portugal, fazer escarrapachar que o CORREDOR PORTUGUÊS com mais títulos sonantes no seu palmarés, Agostinho incluído, tem gelatina a correr-lhe nas veias, não merece que o considerem… não é mais que uma abjecta barata a pedir que seja esmagada por qualquer sandália de um qualquer veraneante.
Seja jornalista ou não (e quero lá saber se é director…!).

1 comentário:

Dudu disse...

Como é possivel o director de um jornal desportivo dizer alarvidades dessas!!!!
Se trabalha num desportivo e ainda por cima é director devia ter noções básicas de todos os desportos. Se não tem, pelo menos é o que parece, antes de escrever o que quer que fosse devia-se informar porque deve haver alguém na redacção para lhe dar umas luzes.
Também há sempre a hipotese de ficar calado,porque para dizer barbaridades dessas estou cá eu, e só as digo em casa para ninguém ouvir................