sexta-feira, julho 13, 2007

654.ª etapa


SE RECORDAR É VIVER...
ENTÃO ESTOU MAIS VIVO QUE NUNCA

Mais duas etapas da Volta de 1993, mais memórias desenterradas. Mais saudades…

Começo por voltar ainda ao programa de ontem. Passaram-se-me duas referências. A primeira, ao então Campeão Nacional que era o… Raúl Matias, do Carnide; a segunda ao facto de Paulo Couto, hoje o presidente da Associação Portuguesa dos Corredores Profissionais ser, à altura, uma peça fundamental na equipa da Recer-Boavista.

No programa de hoje vimos a chegada a Marco de Canaveses, junto ao Estádio Avelino Ferreira Torres, no largo… Avelino Ferreira Torres que fica ao fundo da Alameda… Avelino Ferreira Torres que cruzava a meio a Avenida… Avelino Ferreira Torres. Chamem-lhe narciso!
Mas era uma boa chegada, que serviu para as duas etapas, a primeira que foi ganha por… Américo Silva, o actual DD da Liberty Seguros, então ao serviço da espanhola Artiach, à frente de um reduzidíssimo grupo de cinco ou seis corredores onde três eram da… Sicasal-Acral: Vítor Gamito, Carlos Pinho e Joaquim Sampaio. Os últimos dois ainda aí andam no pelotão. Pinho foi mesmo líder da Volta a Portugal, na edição do ano passado, 13 anos depois das imagens que vi, e Joaquim Sampaio já leva este ano, se não me trai a memória, três vitórias em etapas. Como o Vinho do Porto… quanto mais velhos melhores.

Em relação a antigos companheiros da CS, hoje vi, de novo, o Zé Nunes, mais o Fernando Emílio, da Rádio Comercial. Se não me engano este foi o ano em que a estação da Sampaio e Pina levou uma super equipa (não só desportiva) e fazia, em directo do local de chegada, todo o programa da tarde que fechava com o Diário da Volta, também em directo, Para além do Fernando e do Zé Nunes, repórteres de estrada, a coordenação era do Rui Almeida. Tinham dois comentadores residentes, o Manuel Graça e o Emídio Pinto, mais um jornalista convidado diariamente. Também lá fui. Foi em Macedo de Cavaleiros. E o Zé Rosa – o motorista de A CAPITAL –, com a melhor das intenções, encostou-se a uma das super gigantes colunas de som e gravou toda a emissão com o meu gravador, que me entregou, orgulhosíssimo, no final do programa.
Tinha, inadvertidamente, gravado tudo em cima… das entrevistas que eu fizera à chegada!!! Acontece…

A segunda etapa mostrada ontem foi o crono Marco-Marco que eu fiz no carro da Sicasal-Acral conduzido pelo grande amigo Manuel Graça. Acompanhámos o Manuel Cunha que fez uma etapa… para o fraquinho.
Mas foi uma experiência e peras.

O traçado era suicida. Começava a subir, depois tinha uma descida louca que terminava num entroncamento com uma estrada… em terra batida, onde virávamos à esquerda. Algumas centenas de metros à frente virávamos de novo à esquerda, para um empedrado que levava ao cimo de uma contagem (3.ª categoria) para o Prémio da Montanha.

À altura faltavam-me ainda referências. Era praticamente um caloiro ainda e hoje não me surpreende o facto, por isso achei curiosíssimo o reparo do Alves Barbosa que questionava exactamente isso: a existência de uma contagem para o Prémio da Montanha num crono.

Ganhou o Joaquim Gomes (Recer-Boavista) com um tempo extraordinário, relegando o seu companheiro de equipa – e vencedor da Volta anterior –, o brasileiro Cássio Freitas para o segundo lugar. O Joaquim ganhou o crono e vestiu a camisola amarela que não mais despiria até à chegada a Lisboa conquistando a sua segunda vitória (depois da de 1986) e de em 1990 ter perdido a liderança no crono final, na Maia, para Fernando Carvalho. Por 23 segundos.

Não vou ser exaustivo no que respeita aos companheiros da CS que vou agora revendo. Vi o Teixeira Correia (pela Rádio Voz da Planície, de Beja).

A memória mais forte que me ficou desta etapa – do crono – foi a indescritível sensação que pude experimentar ao fazer o percurso no carro de apoio da Sicasal-Acral. Conduzido, como já referi, pelo Manuel Graça. Que experiência…
O Manel não é alto, antes pelo contrário, e fez o percurso todo… de pé, para poder ir de cabeça de fora do carro incentivando o Manel Cunha.
Descidas loucas, estradas rurais, estreitíssimas, curvas que se sucediam a curvas, o Manel a conduzir de pé e eu… agarrado com as duas mãos ao assento do carro.

E guardo outra memória. No final da etapa que, saída de Tarouca nos levou até Marco de Canaveses, estalou a guerra – que já vinha quase desde o início da prova, mas mantida em banho-maria – entre a Organização e a então nóvel SIC.

Ter-se-á queixado a RTP (não o posso garantir) que detinha os direitos de transmissão em directo mas que entendia esses direitos alargados à tomada de imagens durante todas as etapas. Os directos eram apenas de cerca de uma hora, ma RTP2. E a Organização decidiu que a equipa de reportagem da SIC ficava proíbida de tomar imagens em movimento. Isto é – e acontecia em muitos casos – ficava equiparada aos jornais que não tinham um fotojornalista numa moto. Era o caso de A CAPITAL, mas não só. Do carro, em andamento, não podíamos tirar fotos. A alternativa? Estudar muito bem o traçado das etapas, cortar caminho e esperar num cruzamento qualquer a passagem dos corredores para poder tirar fotos. Depois? Irmos que nem loucos por percursos alternativos em busca de outro ponto onde pudéssemos parar e tirar mais fotos. E depois, claro, tínhamos a chegada e o pódio.
A SIC, ameaçada de expulsão da corrida, contou com a solidariedade dos jornalistas da escrita – os da rádio não iam à Sala de Imprensa – que nos juntámos, elegemos um porta-voz, o Costa Santos, do Record, e ameaçámos não mandar serviço para os nossos jornais se a SIC fosse expulsa.
Após largos minutos, uma hora, de negociações chegou-se ao tal compromisso. As câmaras da SIC ficavam equiparadas às máquinas fotográficas dos fotojornalistas. Podiam recolher imagens, mas parados. Depois… que fizessem o mesmo que os outros. E havia autênticos ralis por estradas não incluídas no roteiro da Volta, sem trânsito cortado e com todo o risco que isso acarretava, de modo a poder parar ainda em mais algum local.

Memórias que me transportam para há 14 anos atrás… E estou a gostar.

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