quinta-feira, julho 19, 2007

667.ª etapa


AINDA O CÓDIGO DE ÉTICA,
TALVEZ COM UM POUCO MAIS DE RACIONALISMO

No quente da discussão – uma discussão da qual a Comunicação Social, em Portugal, se tem demitido, e isso é de lamentar – se calhar houve alturas em que eu apareci numa postura quase radical.

A primeira ilacção a tirar é que, em Portugal, se não resistimos a um largo título a toda a largura da página explorando ao máximo os casos de doping, não se vislumbra a mínima vontade – ou capacidade? – em se discutir seriamente esse mesmo problema do doping.

E eu creio que o que vinga é mesmo a segunda opção.

Não há quem se queira dar ao trabalho de mergulhar no fenómeno doping, tentar explicá-lo e – até porque não será de todo fácil – levantar perigosas “lebres”.

O mesmo acontece noutras modalidades, nomeadamente no futebol, e a “ordem” é, invariavelmente,… não se mexa nisso.
Aliás, não me esqueço a opinião de um director dos “desportivos” nacionais: “Não podemos morder a mão que nos dá de comer.”

Os leitores, adeptos mais ou menos incondicionais, deveriam ter percebido esta mensagem. Ficou tudo dito. E se se assume que não se revolve os “podres” do futebol – porque é o que “lhes” dá de comer – que não tenham a pouca vergonha de pedir que outros se “queimem” mexendo em assuntos em que eles próprios não teriam a coragem de mexer.

E se o futebol até pode dar de “comer” a gente tão importante que se vê obrigada a recolher-se para não por em risco a vida do jornal que dirige, é evidente que isso não acontece nas modalidades.

Em nenhuma modalidade.

Se eu viesse dizer que não podia revelar eventuais casos que conhecesse porque também “comia do mesmo prato” o mínimo que me acontecia seria o ser despedido.

Como tenho a consciência tranquila, posso dizer que não corro esse risco.

Os casos de doping que soube, foi-o pela via institucional.

Quando se tornaram públicos.

Aliás, até já aconteceu eu noticiá-los, terem sido negados para, mais tarde, se vir a saber que a notícia era verdadeira.

Porque também há casos de doping no ciclismo. Reparem no que escrevi: TAMBÉM HÁ CASOS DE DOPING NO CICLISMO. Mas o doping não é um exclusivo do Ciclismo. Definitivamente, não é.

E é tremendamente injusto que se empolem, sucessivamente, TODOS os casos que acontecem nesta modalidade, quase branqueando casos similares noutras disciplinas.

É por isso que eu me irrito.
Vem daí a minha oposição, consciente, à insana perseguição que se move ao Ciclismo.

Como se morasse nele toda a mentira que, na verdade, se espalha por todas as modalidades.

Assumamos então uma posição concertada de luta contra o doping.

Não subvalorizando os casos que vão acontecendo no Ciclismo, mas olhando de forma abrangente todas as modalidades.

Defendamos, então, as mesmas penas para toda a gente.

Porque é que um futebolista apanhado nas malhas do doping é defendido de forma que atenta contra a nossa inteligência e, cumprido o castigo (se foi apanhado, é justo que seja castigado) retoma todos os privilégios que tinha antes. Mantém o contrato, recebeu sempre os seus honorários e é reapresentado até como… REFORÇO da equipa, e um Corredor é liminarmente despedido?

E a verdade é que não há uma voz, uma única, que se levante contra o primeiro caso, e se torna ensurdecedor o barulho feito à volta de qualquer caso que aconteça com o Ciclismo.
Um verdaeiro mistério.

Mas vamos então tentar explicar a minha posição quanto ao chamado “Código de Ética” que nasceu por simpatia em relação à Carta de Ética que os corredores que estão a fazer o Tour foram OBRIGADOS a assinar.

No caso do Tour, a iniciativa partiu da Organização, ainda que com o apoio da associação de equipas e enquadrando-se num já anteriormente existente Código de Ética rubricado pelas equipas ProTour.
A única novidade foi a de que… os Corredores foram encostados à parede: ou assinam, ou não correm.

Mas foi a Organização da corrida quem saiu na frente.

Em Portugal, o nosso “codigozinho de ética de trazer por casa” nem sequer foi pensado de forma a abranger todo o pelotão. E foi, caricatamente, logo aprovado pela ANEPC.

EU SEI o que os motivou.
“Os”... são os responsáveis pelas equipas.

É que cada um vive desconfiado que os outros conseguem, ano após ano, serem mais espertos e conseguem elevar a forma dos seus corredores acima daquilo que eles próprios – usando os mesmíssimos métodos – conseguem.
É isso, não duvidem.

E o Código serviria para tentar travar os “outros”, sendo que, na prática, nenhum deles tentaria sequer modificar fosse o que fosse em relação ao passado.

Até porque se não aconteceram casos, isso significa que – do mal, o menos – se mantiveram dentro dos limites regulamentarmente permitidos.

Mas sonharam que a existência de um Código poderia levar “os outros” a retraírem-se.

Tudo isto foi, como facilmente se pode desmontar – não é erro ortográfico, é DESMONTAR mesmo –, pensado mais para tentar inibir os outros quando nenhum chegou sequer a pensar em fazer diferente do que sempre fez.

E tentar ganhar vantagem na hipótese de os “outros” se terem amedrontado com o código…
Tudo jogo baixo.

Mas jogando pelo seguro.

Se alguma coisa viesse a acontecer… a culpa seria exclusivamente dos Corredores.

Ora, esteve, por isso, muito bem a APCP ao denunciar o acordo.

Até porque eu sei que ao projecto de código inicial, bastava que as equipas tivessem aceitado as alterações propostas pela APCP, em relação a quatro ou cinco pontos, para que o documento fosse aceite por todos.

Quer dizer, e aqui acho que a APCP foi um pouco ingénua, sabendo-se desde o início – pelo menos havia a obrigação de o saber – que as equipas estrangeiras convidadas não podiam ser levadas a assinar um acordo doméstico.

Mas também acho que a APCP acabou por usar esse argumento apenas para reforçar a sua posição.

A verdade é que as alterações que propusera foram ignoradas.

E só tinha que dizer… NÃO ASSINAMOS.

A grande – e única – novidade para a qual todos fomos despertos nestes últimos dias NÃO RESIDE na nega da APCP, é naquilo que ninguém quis revelar.

Que o Código não foi mais do que uma manobra na qual, embora todas as equipas tivessem (ao que sei) assinado, cada uma das signatárias não tivesse posto nisso mais do que um único objectivo: inibir as demais com o fito disso poder vir a tirar algum proveito.
É esta a verdade.

O resto… nada mais do que um caso de puro folclore no qual o ciclismo português se vai diluindo.

Tanto que só a APCP se lembrou que o pelotão será composto por nove equipas nacionais mais… sete estrangeiras!...
E que os corredores das equipas portuguesas saíam nitidamente prejudicados.

É o que acontece quando só se olha para o próprio umbigo.

E é por isso que me mantenho firme, enquanto me identificar com os seus objectivos, com a APCP. Com os Corredores. Que ainda são os principais artistas deste espectáculo que é o Ciclismo.

3 comentários:

silva disse...

Olá Madeira,
Já na outra etapa deixei o comentário, que houve uma 1ªreunião da ANECP juntamente com a APCP e que se acordou os pontos que todos acharam deveriam ser modificados.Na seguinte reunião da ANECP foi apresentado um código de ética totalmente diferente do acordado em conjunto, mas oito equipas aceitaram concordar com este código, tendo sómente eu como representante de uma equipa discordado e não votando o mesmo que todos os outros, no entanto a maioria deu o dito por não dito e aprovaram o tal código de ética e a tal petição para os implicados na Operacion Puerto não poderem participar na Volta a Portugal, sempre com a minha discordância, porque o ciclismo só apareceu com estes grandes problemas, a partir do momento em que algúem ao nível do Protour se lembrou do código de ética para amedrontar os outros e aqui alguém se lembrou de lhe seguir a peugadas... Abraço

Unknown disse...

Também acho que este código (de ética?) não faz qualquer sentido. Menos códigos e mais acções.

mzmadeira disse...

Eu sei, amigo.
Entretanto, já depois desta tua mensagem, escrevi um artigo novo...
Sei eu, sabes tu, daquilo de que estamos a falar. O resto... é folclore. A cafeína já foi despenalizada...