terça-feira, outubro 03, 2006

246.ª etapa


DÚVIDAS SIMPLES QUE É TÃO FÁCIL DESFAZER


Este ano também aconteceram situações de todo inéditas no nosso ciclismo e que os jornalistas que vivem de forma autêntica a sua paixão pela modalidade não podia deixar de noticiar… in su tempo. Inéditas, tanto quanto eu julgo saber.

Falo da transferência de… patrocinadores.

Vasculho os meus arquivos pessoais e (até pode ser que se me escape alguma coisa, e disso peço perdão aos melhor informados) não encontro exemplos anteriores.

Por exemplo, em 1934 (sim… 1934!), no Sporting abriu-se uma “guerra” que levou à “deserção” de parte da sua equipa de ciclismo que se “mudou” para Ferreira do Alentejo onde o Sporting Clube Ferreirense os acolheu tendo a equipa aparecido em 1935 com o nome de “Leões” de Ferreira do Alentejo e ganhou a Volta por intermédio de César Luís que, por acaso, em 34 até tinha representado o … Benfica.

Aproveito para, sem querer abrir aqui nenhuma "guerra" para dizer que estão enganados os amigos do site oficial do Louletano Desportos Clubes onde li, recentemente, que terá sido este clube o primeiro com uma equipa abaixo do Rio Tejo a ganhar a Volta a Portugal. Não foi. A primeira foi a mui alentejana dos "leõs" de Ferreira do Alentejo, em 1935.

Já depois do 25 de Abril de 1974, numa altura em que o ciclismo profissional foi posto em causa, “obrigando” aos habituais “desenrascansos” bem característicos do português houve uma mesmíssima equipa que um ano se chamou Costa do Sol e depois apareceu como Águias-Clock. Mas aqui já era a “flutuação” dos sponsors – enquanto a equipa se mantinha a mesma – vingava. O mesmo aconteceu com a Lousa-Calbrita (com Joaquim Gomes como cabeça de cartaz) em relação à Sicasal, ou Torreense, para ser mais preciso, que a empresa de carnes ainda nem dava o nome à equipa.

E houve outros exemplo de formações inteiras que mudaram de nome simplesmente porque o total do conjunto passava a ser patrocinado por outras marcas. Em 1996, depois de a Sicasal ter abandonado o apoio à equipa de ciclismo, apareceu a LA-Malveira. E esta equipa já foi LA-Alpiarça e LA-Bombarralense… Mas era sempre a mesma equipa.

O que aconteceu neste defeso foi que o patrocinador de uma equipa saiu e passou a patrocinar outra equipa. E estou a falar exactamente da LA Alumínios.

Não é, em 100% inédito porque nos já anos 80 do século passado a Recer, que havia patrocinado o Sangalhos, apareceu como sponsor do Boavista. Mas isto foi porque a equipa da Bairrada acabou com o ciclismo.

O ineditismo está no facto de que, para o ano, a LA Alumínios vai estar no mesmíssimo pelotão que a equipa que patrocinou este ano mas nas camisolas de uma outra equipa. Por acaso “apenas” a sua principal rival. O Benfica ainda não entra nesta história.

Ora, isto já induziu muita gente em erro.
Não, não se trata da fusão entre duas equipas. Não, nenhuma das formações acabou. “Apenas” a empresa que patrocinava uma vai passar a sponsorizar a outra.
Vão coexistir ambas no próximo pelotão e apenas a LA Alumínios se “muda” para a Maia. Não “leva” corredores consigo.

Esta é outra parte que me parece tem vindo a levantar algumas dúvidas, Com quem têm os corredores contratos assinados? Com a equipa ou com o sponsor?
Na esmagadora maioria dos casos com as equipas.

Mas voltemos um pouco atrás.
As equipas, mesmo que sejam apenas conhecidas pelas marcas que as patrocinam têm, obrigatoriamente, que assentar numa figura que estatutariamente seja reconhecida como um clube desportivo. A federação só pode aceitar como seu membro um clube. Nunca uma empresa.

Com a permissão do meu amigo Vítor Paulo Branco – porque vou voltar a falar da sua equipa – a formação criada por seu pai teve, nos primeiros anos, que buscar “abrigo" em instituições já reconhecidas como clubes porque não havia tempo para, passe o pleonasmo, institucionalizar um clube criado de raiz. O que actualmente já acontece, naquele caso muito particular. Por isso a equipa “foi” da Malveira, primeiro, de Alpiarça, depois e ainda do Bombarral. O apoio da CM do Bombarral – que “delegou” a representação publicitária no Sport Club Escolar Bombarralense – ainda se mantinha esta época, mas a equipa já estava registada na federação como União Ciclista da Charneca. É com esta, porque institucionalmente obedece à figura de clube, logo de empregador, que os corredores têm contrato. E compete à sua direcção a observância de todos os items do contrato. Como a do pagamento dos salários.

Nesta época agora finda, e tanto quanto sei, havia duas excepções. A Vitória-ASC, pese embora levasse nos equipamentos o emblema do Vitória Sport Club continuou a ser suportada pela União Ciclista de Vila do Conde porque a entrada do Vitória, que haveria de permitir a continuidade da equipa na estrada, aconteceu já depois de a equipa estar inscrita. E o caso da Madeinox.
Sinceramente, falo apenas fazendo extrapolações dos acontecimentos naqueles dias pré-Volta. Os desentendimentos com a Associação Recreativa de Canelas (Gaia) que chegaram a pôr em causa a participação da equipa na prova foram ultrapassados com o total rompimento com aquele clube. Aliás, foram vários os OCS que noticiaram que até dos carros da equipa foram retirados os símbolos da ARC. Parece que porque foi o patrocinador (a Madeinox) que assumiu sempre o pagamento dos salários dos seus (da equipa) empregados.

É possível, embora isso signifique estar-se a contornar a legislação em vigor. A ARC “deu” o nome para que a equipa fosse inscrita, mas nada tinha a ver com ela a não ser que esta a publicitava. A federação pode ser “enganada” com este esquema. Sendo que, em caso de litígio levantado junto da federação, a responsável seja sempre a AR Canelas uma vez que aquela não pode aceitar como entidade responsável pela equipa uma empresa. Mas podem acontecer estes tipos de acordos.

Que, repito, pelo que percebi, é o que acontece com a Madeinox que detém, de facto, os contratos com os corredores que a representaram esta temporada.

E já estamos no outro “caso” do defeso.
A Madeinox “divorciou-se” – ainda por cima, parece que litigiosamente – da AR Canelas e decidiu apoiar, em 2007, o Clube de Ciclismo de Loulé.
Depois de tudo o que escrevi, penso que entenderão o porquê de a nova equipa vir a ter uma maioria de corredores que tinham contrato com… a Madeinox.
Os corredores da Imoholding-Loulé teriam contrato de um ano, que terminará, oficialmente, a 31 de Dezembro deste ano, e porque a Madeinox terá contratos de mais do que um ano com alguns corredores, “vai ter que levá-los” para Loulé. E haverá vários corredores que, com o CC Loulé condicionado com esta situação, não poderão ver o seu contrato revalidado…

É um caso diferente do usual. Numa fusão de equipas poder-se-ia negociar o número de corredores de cada uma que continuariam, mas se o patrocinador é, ao mesmo tempo, empregador de alguns corredores, tendo estes contratos válidos impô-los-á à equipa associada.
E com isto entro num novo tema que é o da fusão de equipas que, no alinhamento deste Blog, já terão lido mais acima.

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