terça-feira, outubro 10, 2006

260.ª etapa


FAZEM MUITO BEM EM CHAMAR A ATENÇÃO... MAS ASSIM?


A notícia li-a hoje na edição digital d’O Norte Desportivo – aliás, e para quem não conhece, um link que eu aconselho (podem consultá-lo em www.onortedesportivo.com) -, há, pelo menos, quatro equipas de sub-23 em risco para a próxima temporada. O motivo é o mesmo do costume, faltam patrocinadores.

São a da Escola de Ciclismo Fernando Carvalho – sobre a qual se centra o artigo – e também as do Guilhabréu, Águias de Alpiarça e Centro de Ciclismo de Loulé.

Claro que é uma notícia que me desagrada, principalmente agora, quando acho de suma importância que o escalão imediatamente abaixo das elites deveria merecer um pouco mais de apoio. Mas o ciclismo é sazonalmente “atacado” por este problema. Felizmente, com maior ou menor dificuldade tem-se vindo a conseguir ultrapassar estes escolhos e conseguido levar a nau a bom porto.

Vejo aqui três situações diferentes.

Em primeiro lugar, o Guilhabréu, formação que foi o berço daquela que é hoje a profissional Vitória-ASC e que tem vindo a ser exequível graças ao abnegado apoio da empresa de António da Silva Campos, que ainda tem de suportar grande parte do orçamento da Vitória-ASC. Conheço a pessoa – que faz o favor de ser meu amigo – e sei da sua imensa paixão pelo ciclismo. É claro que não podemos exigir mais a quem já dá mais do que seria, em termos de gestão de capitais, razoável. Não podemos insistir com algumas empresas num múltiplo patrocínio. Seria preferível que se encontrassem mais empresas a apostar no ciclismo. É uma iniciativa que terá de partir dos seus próprios responsáveis. Mas não acredito que o António Campos deixe cair a equipa. Estaremos aqui num meio-termo entre o “eu não posso dar” e o “eu só posso dar isto, mesmo sabendo que não chega…”

Depois vêm os casos do CC Loulé e do Águias de Alpiarça, sendo que, em relação aos algarvios, a questão pode ser mais delicada. Porque das duas é a que TEM quem manter equipas neste escalão de sub-23 e de elites. Em relação à equipa de elites, a questão parece estar resolvida, com a entrada da Madeinox como patrocinadora… e os mais jovens?
E os mais jovens? Será que numa das regiões do País com maior movimento de dinheiros (Lisboa e Porto à parte) não UMA empresa que possa vir a estar interessada? Existem, de facto, mais equipas de sub-23 no Algarve, mas todas não são de mais. É uma região do País onde o ciclismo está mais implantado e TEM de haver empresários a saber disto.

Francamente não sei quanto custa uma equipa de sub-23. 10/12 corredores (convinha que fossem mais, mas temos calendário para isso?), um DD, um mecânico e dois massagistas… de facto não se. Se há equipas PROFISSIONAIS com 300 mil euros de orçamento…

O caso do Águias de Alpiarça é, em muito, parecido com o de Loulé. Alpiarça, o Ribatejo, NÃO PODE FICAR SEM CICLISMO mesmo que seja o ciclismo do 2.º pelotão. Não, em nome dos grandes… nomes que a vila, a região, o distrito, deram ao ciclismo português.

E no que respeita à Escola de Ciclismo Fernando Carvalho? Pois, embora inserida numa região onde há várias outras equipas, estamos a falar de um projecto que abarca desde as escolas até aos sub-23. E isto e de importância extrema para o melhor encaminhamento do ciclismo jovem no nosso país.

E deixei para o fim o caso da equipa de Fernando Carvalho porque o vencedor da Volta, em 1990, é o único dos responsáveis, no trabalho a que me refiro, a proferir declarações.
E toca num ponto devera sensível: porque é que não há uma obrigatoriedade de as equipas que buscam reforços neste escalão, mormente em equipas que previlegiam a formação, podem chegar, ver e levar? Sem que a equipa formadora possa, de alguma forma, ser ressarcida do “investimento” que fez?

Olha que boa pergunta!!!
E quem é que tem que dar a resposta?
Decerto que não o Benfica! Que é apontado a dedo como “o mau da fita” quando, por acaso, nem sequer contratou nenhum corredor da EC F. Carvalho! Não percebo. E nos anos anteriores? O Fernando Carvalho não teve corredores seus desejados por equipas profissionais? Teve sim senhor. Ele, Fernando Carvalho, faz questão de sublinhar que só a Maia pagou algo pelo tempo de formação – creio que estará a falar de Bruno Lima – mas se diz que SÓ a Maia pagou, é porque houve outros a baterem à sua porta e a levar corredores sem que a sua equipa tivesse tido quaisquer contrapartidas… Porquê apontar agora o dedo ao Benfica se os “encarnados” nem sequer “pescaram” por aquelas bandas?

É evidente que EU ACHO que sim. À semelhança do que acontece no futebol, também as equipas formadoras, no ciclismo, deveriam ser ressarcidas do investimento que fazem nessa formação sempre que uma equipa profissional fosse “pescar” nas suas águas. Tudo bem.

Mas a verdade é que NEM quando a Maia terá pago o devido – ou algo que foi achado ser o suficiente – o Fernando Carvalho tentou fazer ouvir a sua voz. E escolhe fazê-lo exactamente… contra o Benfica. Mas porquê? O que, e o Fernando Carvalho, que me conhece e sabe quem sou, vai concerteza perdoar-me esta leitura, não deixa de parecer ser um certo aproveitamento do nome do… Benfica.

E ele diz mesmo, mais ou menos isto: “Com o orçamento que têm vão buscar os atletas que quiserem…”
É evidente que o orçamento a que se refere é substacialmente superior ao até aqui habitual em equipas portuguesas… Mas deve o Benfica ser penalizado, pelo menos na imagem que fica, por poder oferecer condições um pouco mais dignas aos corredores que vai buscar… inevitavelmente a outras equipas, uma vez que está a protagonizar um regresso ao pelotão?

Eu acho que não. Acho que estes desabafos pecam por tardios. Sei que não é fácil às equipas – leia-se aos seus responsáveis – de sub-23 terem acesso à CS, mas ser difícil traz, inapelavelmente acoplado, o não ser impossível.

Deve partir destes responsáveis a iniciativa de virem à CS e tentarem fazer passar a sua mensagem. Não agora que surge o Benfica, mas o ano passado, o outro antes e o outro ainda antes desse. Fazê-lo agora não pode ser dissociado do facto de o Benfica ter aparecido no mercado. E parece-me, a mim, e posso estar enganado, um pequeno tiro no pé.

Mas apoio incondicionalmente a pretensão destas equipas de formação em serem ressarcidas daquilo que gastam na formação. Isso está fora de discussão. Se não há na letra da Lei nada que a isso obrigue, então é fazerem sentir às respectivas Associações qual é a sua reivindicação e fazer com que estas – as associações – se batam pelos interesses dos seus associados no único local onde o devem fazer: na Assembleia-geral da Federação Portuguesa de Ciclismo.

É que está a cobrar à Direcção da FPC coisas que nem sequer lhe foram pedidas, assim no jeito de que, “sendo Direcção tem, obrigatoriamente, que ter conhecimento destes problemas”.
Se calhar é preciso mesmo por as associações a “abanar” a direcção da FPC. Feito isto, se não houver reacção, ah! então eu estarei na linha da frente disposto a questionar a Direcção da FPC. E não há nada que me faça abrir a guarda, no que a isso diz respeito.

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