quarta-feira, outubro 18, 2006

273.ª etapa


E POR CÁ? COMO É?

Interessante, muito interessante mesmo, o trabalho que a Meta2Mil traz esta semana no que respeita aos custos de uma equipa Profissional Continental.
E mais interessante seria poder confrontar estes números com os que se praticam em Portugal.


Então é assim: uma equipa Profissional Continental não se faz com menos de 1 milhão de euros (já foi este o orçamento da Maia, em 2003 e 2004).

O que fica “líquido”, após este trabalho dos meus colegas espanhóis, é a tremenda injustiça que por cá se pratica em termos de vencimentos dos corredores.
Poder-me-ão dizer que um contrato significa acordo entre as partes. Tudo bem. Não faço mais comentários. Deixo-vos com os números.

Estamos, relembro, a falar de equipas Profissionais Continentais. Aqui, a UCI “manda” que o mínimo anual a pagar a um corredor que já era profissional (ou que passou a ostentar este estatuto) é de 24 mil euros. Para os neo-profissionais, esse montante baixa para os 21.500 euros.

Tenho que dizer, aqui, que os contratos vigoram por 12 meses, de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de cada ano mas, na prática, o usual é pagar os vencimentos em 10 “tranches”.

Eu gostaria muito de apresentar os números que vingam em Portugal, mas não é uma tarefa fácil. Mas talvez consiga. Para já, fiquemos com os números de Espanha.

Uma equipa Profissional tem de ter, pelo menos, 14 corredores e o exemplo avançado pela Meta2Mil divide-os em 8 já profissionais e 6 neo-profissionais. Aponta, também, como ideal a existência de mais seis pessoas assalariadas. Um DD, dois mecânicos e dois massagistas… mais um “manager”, figura que não é decalcável para Portugal onde o DD desempenha essa mesma função e onde os DD-adjuntos são inscritos como massagistas.
Mas estou a falar do trabalho feito pelo Meta2Mil.

Assim teremos:
8 corredores profissionais – 216.000 € (2700 € x10 ordenados, por cada um)
6 neo-profissionais – 129.000 € (2150 €x10 ordenados)
6 pessoas (DD, adjunto, 2 mecânicos e 2 massagistas) – 120.000 € (2000 €/mês)
Segurança Social – 162.000 € (normalmente este montante é dividido por cada um dos corredores e acrescentado aos respectivos vencimentos mensais, isto é… acrescenta-se nos contratos mais 1000 € sobre o ordenado, dinheiro esse que a equipa retém para pagar à SS)
Seguros individuais – 68.000 €
Compra/leasing de viaturas – 65.000 € (dois carros; uma auto-caravana e um camião)
Custos burocráticos – 40.000 € (em Espanha: 11.000 € para a UCI: 3.625 € para a RFEC; 6.439 € para a Associação de Equipas mais outros impostos)
A isto há que acrescentar os 25% do total anual de ordenados (a tal garantia bancária que serve para pagar 4 meses de eventuais atrasos no pagamento dos ordenados), este valor não será utilizado se tudo correr normalmente, mas tem de ser entregue (ou garantido por uma instituição bancária) à UCI.
Outros gastos (o que engloba tudo o resto, alojamento, combustível, equipamentos, etc.)200.000 €.

Mas faltam aqui coisas.
Faltam as bicicletas, sendo que se a equipa tiver algum “peso” até pode conseguir as bicicletas (de 4 a 10 por corredor) de “borla”; o mesmo acontecendo com os equipamentos: se for uma equipa de primeiro plano, ou previsivelmente ganhadora, os equipamentos até podem ser conseguidos de “borla”. O mesmo acontece com outras “pequenas” coisas: os bidons, as barras energéticas, os capacetes… e por aí adiante.
Senão, os números atrás nem são suficientes…

Agora, olhemos de frente estes números e, mesmo que eles se refiram a equipas Profissionais Continentais (em Espanha), digam-me… quantos corredores pro, em Portugal e em 2007 vão ganhar 2700 €/mês? E os neo? 2150 €? Metade?

Eu sei de corredores que na época que agora finda não auferiam mais do que 350 €/mês…

Por isso já escrevi, e vou voltar a escrever, já, já a seguir que… há equipas nas quais só o vencimento do DD é equiparável à realidade… espanhola. O que eles estrabucham para que as equipas não acabem!...

E não! Não acho que os corredores, se ganhassem estes ordenados, estavam a ser (demasiado) bem pagos. Nem em sonhos!...

1 comentário:

Jorge-Vieira disse...

Caro amigo Madeira:

Este assunto é interessante de facto, e demonstra números crueis face ao que se pratica cá em Portugal, a titulo de exemplo deixo aqui um.
Como sabe, eu já estive no ciclismo profissional como dirigente de uma equipa, e para não estar aqui à procura da papelada que tem os números, eu deixo aqui aqueles que me recordo.
Orçamento para uma época, cerca de 70 mil contos
Salarios dos corredores profissionais, variavam entre 500 e 900 contos.
Posso referir que isto são numeros de há 3 temporadas anteriores, e como se pode verificar muito atrás daquilo que o estudo nos mostra.
Um abraço.