segunda-feira, outubro 30, 2006

304.ª etapa


QUE ESTRANHO PODE SER O CICLISMO EM PORTUGAL!...

Hoje recebi o telefonema de um amigo que, dita o acaso, é também presidente de um clube de ciclismo.
Que teve uma equipa no pelotão profissional nas duas últimas temporadas e que, neste momento, passa por grandes dificuldades até porque terá de refazer, praticamente a partir do zero, todo o projecto que lhe deu vida. Garante-me que não é um homem batido, antes se sente um pouco… abatido.

Construiu, com muita paixão pelo ciclismo, durante alguns anos, pondo pedra sobre pedra porque sempre foi assim que esteve na vida, uma equipa de sub-23. Há dois anos tocaram-lhe à porta. Na mão, traziam um novo e ambicioso projecto. Projecto esse que significava, assim, de um momento para o outro, o “atalhar” caminho em direcção à meta que há muito traçara. Levar o seu clube até ao pelotão profissional.
Hoje confessou-me que foi “obrigado” – atenção que coloquei a palavra entre aspas – a decidir tudo muito rapidamente. E como recusar aquilo por que vinha a trabalhar há já vários anos? Não foi difícil “arrancar-lhe” o sim.

Voltei a usar as aspas. Em ambos os casos usei-as para sublinhar, figurativamente, situações que ele aceitou sem condições.

No primeiro ano as coisas não correram… nem bem, nem mal. Tudo precisa de passar por alguns patamares, até para que todos se habituem à nova realidade. Foi partindo deste pressuposto que se avançou, com mais ilusões do que nunca, para o segundo ano.

Agora já não é do discurso dele que falo. É da minha análise.
O segundo ano voltou a não agradar, principalmente no campo desportivo, mas ainda havia espaço. O contrato com o patrocinador “almofadava” estes dois anos para a equipa crescer e o projecto se solidificar.

Dois meses antes da temporada acabar… tudo ruiu.
De repente, viu-se em piores condições do que estava em 2004 e com a preocupação acrescida de ainda ter à sua responsabilidade a solvência financeira de mais de meia dúzia de famílias cujos “chefes” são, ou corredores, ou pessoal auxiliar.
Voltou a viver a angústia de ficar “preso” ao telefone à espera que alguns dos contactos dêem sinal de vida. Com uma resposta positiva – o que lhe permitiria respirar de alívio – ou que o desenganem de vez, de forma a ainda ter tempo de partir para outra possibilidade.
Passam os dias, passam as semanas… Começa a ficar curto o tempo.
Algures por Alcobaça mora um homem que ainda mantém acesa a esperança, mas começa a preparar-se para experimentar o desânimo que cada vez mais se adivinha.
“A verdade é esta, Madeira!” – disse-me – “Como a Madeinox e o Loulé se fundem… neste momento há menos duas equipas no nosso pelotão.”
A segunda… a segunda é aquela que ele criou e vinha a fazer crescer, talvez lenta, mas seguramente. E que depois de dois anos entre os profissionais, à cautela, é melhor ir pensando começar a reconstruir… do zero.
Que estranho pode ser o ciclismo em Portugal!...

2 comentários:

RuiQuinta disse...

Na minha opinião, o sponsor decidiu mudar de ares pela simples razão de não ver fruto no dinheiro investido.

Não me parece que o ACC tenha muito culpa, mas sim quem foi buscar os ex-colegas. (é melhor nem dizer nomes)

Espero que Alcobaça tenha sorte e consiga resolver o problema.

mzmadeira disse...

O VeloLuso é assim como uma espécie de... "diário", para onde vou passando comentários e uma ou outra novidade que me "caia no prato".
Se estivesse no activo, a trabalhar na redacção, não faria outra coisa, PedaleiraGrande! Eu sei bem quais são as principais egras pelas quais se rege a minha profissão.

E mais, nunca transformaria em "notícia" o resultado de uma simples conversa privada. Cujo fito era apenas um: convidarem-me pessoalmente (sei que o convite "oficial" já estará n'A BOLA) para a festa que vai haver no próximo sábado. Uma atenção especial de amigo para amigo. Caro que depois se falou de muitas coisas. Mas conversas privadas tenho-as com a maioria dos agentes do ciclismo. De presidentes a directores-gerais, de técnicos a corredores. E o simples facto de as pessoas confiarem no MJM (pessoa) é aquilo que me obriga a estar alerta de forma a que o MJM (jornalista) não "atropele" essa confiança mútua.

E já aconteceu sim senhor! A meio de uma conversa eu ter que interromper e dizer: "Calma aí, isso interessa ao jornalista, portanto... queres continuar com a conversa?"
A partir dali, a conversa deixa de ser privada e, claro, deixo de ouvir e passo a fazer perguntas. E o contraditório (que no meu código deontológico se diz "a obrigatoriedade de ouvir as outras partes interessadas") será concerteza observado.

Um abraço para si,
MJM