TROFÉUS "VELOLUSO" - 4
Corredores, provas, equipas.
Toma forma então o nosso Ciclismo.
Mas o que seria de uma corrida sem heróis?
Sem momentos que,
por um motivo ou outro,
ficam gravados para sempre nas nossas memórias?
É o somatório desses momentos que,
conjugando-se, fazem de uma corrida
mais ou menos brilhante.
E vai torneando e dando forma
aos heróis da estrada.
A VITÓRIA DE SÉRGIO PAULINHO
Foi a mais fácil das escolhas. O grande momento do Ciclismo português, neste ano de 2006 foi, não tenho dúvidas, a vitória de SÉRGIO PAULINHO (Astana) na 10.ª etapa da Volta a Espanha, na chegada a Santillana del Mar. Datava de há 30 anos a última vitória de um português, em etapas da Vuelta.
E foi uma vitória com personalidade, com querer, com… oportunidade. O Sérgio esteve ao seu melhor nível. No grupeto da frente, nunca deixou de colaborar – ao contrário do que tantas vezes acontece, quando um corredor “julga” que vai poder ganhar e se “corta”, ao longo da fuga, ao trabalho colectivo. Mais, o Sérgio manteve sempre a frieza que só os corredores de grande classe possuem, em momentos-chave como aqueles. Foram vários os “esticões” de alguns dos colegas de fuga, ele respondeu à maioria. Noutros pareceu que já “não podia” chegar lá. Perfeito. É assim que se “joga”, deixar transparecer que vai tão “justo” como os demais proporciona a vários deles pensarem que ainda têm a sua hipótese e evitam-se mais daqueles ataques que não matam mas moem. E depois, na altura exacta… o disparo. O arranque imparável, toda a força física passada para os pedais da bicicleta e toda a força mental concentrada numa só coisa: “Vou ganhar!...”
Ganhou. E aqui apetece-me “adaptar” a célebre frase do astronauta estadunidense, Neil Armstrong, quando pela primeira vez um humano pôs o pé em solo lunar: “Um pequeno passo para mim, um passo enorme para a humanidade.”
Em relação à vitória do Sérgio, não terá sido apenas uma “pequena” vitória pessoal (não foi) mas foi uma vitória enorme para o ciclismo português.
No que respeita aos “Momentos”, o primeiro destaque – até porque aconteceu primeiro no tempo, vai para uma imagem que não me sai da cabeça e que reporta à 1.ª etapa do GP Costa Azul. Aí, quando o grosso do pelotão se fez a meta para discutir a chegada ao “sprint”, lado a lado com esse “monstro” das chegadas massivas, que é o australiano Robbie McEwen quem foi que nós vimos, lutando de igual para igual e vendendo cara a derrota? Exactamente, MANUEL CARDOSO (Carvalhelhos-Boavista), 22 aninhos apenas e um caso sério como velocista. Aliás, mais tarde, na Volta a Portugal, haveria sempre de se imiscuir nas discussões ao “sprint” e, se em Beja pecou por ter pretendido “sair” antes de Cândido Barbosa, em Lisboa cortou a meta uns míseros milímetros atrás do corredor de Rebordosa. Mas haveria de ganhar a etapa – por desqualificação daquele) – e luzir, durante um dia, a Camisola Amarela na prova raínha, em Portugal.
Outro “Momento” que não podia deixar de aqui referir foi a extraordinária etapa que a DUJA-Tavira fez no dia da Serra da Estrela. O objectivo dos algarvios era o de chegarem à camisola azul e conseguiram os dois primeiros lugares nesta classificação que à partida para a etapa era liderada por Hélder Miranda (Riberalves-Alcobaça).
Foi portentoso o trabalho de Nélson Vitorino, em fuga durante meia etapa, desde a subida a partir de Gouveia até metade da descida em direcção a Manteigas. Entretanto, o experiente e sempre abnegado, Krassimir Vasilev “pegou” no “menino” Ricardo Mestre e, “roubando-o” ao primeiro grupo perseguidor, conduziu-o até ao alto, junto à Torre, para depois se lançar ele mesmo em louca correria para vencer, isolado, a etapa no Fundão.
Não quero ser chato, e o Vidal Fitas compreender-me-á (tal como o Ricardo Mestre), mas bastava ter sido o Krassimir a passar à frente, lá no alto, e a camisola azul ia para o Nélson Vitorino. E continuavam os dois primeiros a ser da DUJA-Tavira. E, com o provou no dia seguinte, Ricardo Mestre estava com “meia” camisola da juventude no corpo e estaria sempre no pódio final. E a seu lado estaria mais um corredor tavirense.
O terceiro “Momento” escolhi-o pelo significado que tem, mas também como forma de homenagem a esse grande homem do Ciclismo que é o “mestre” Emídio Pinto. É relativo à 4.ª etapa da Volta quando, depois da chegada a São João da Madeira um corredor da Madeinox vestiu a Camisola Amarela. É, também, um “prémio” que Lizuarte Martins soube merecer, ele que tem feito uma carreira, sem dar muito nas vistas mas regularíssima. Um prémio também, embora que indirectamente, para o seu pai, José Martins, um daqueles corredores que só não é hoje em dia mais recordado – e a quem falta prestar um justo reconhecimento – só porque foi contemporâneo de um tal… Joaquim Agostinho. O Maior.
(continua)
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