terça-feira, outubro 10, 2006

258.ª etapa


JÁ NÃO HÁ NADA PARA INVENTAR!...

Pois meus amigos, aqui atrás deixei a cópia de um "post" que assinei no www.cyclolusitano.com.

Creio ter muitos pontos passíveis de discussão e, a não ser que vocês escolham por vocês próprios, eu vou passar a tentar dissecá-los aqui, escolhendo eu a ordem. E, como vocês ainda não tiveram oportunidade para se exprimirem, o primeiro escolho eu. E é o que vai com o n.º 17: "Limitar as disputas de sprints massivos..."

Pois meus amigos, esta questão levantada pelo Josep Mumbru, um catalão que conhece quase tão bem como a maioria de nós a realidade do ciclismo português (embora a questão não tivesse sido posta em termos do ciclismo português), não é tão disparatada quanto pode parecer.

Vejamos a coisa desde o princípio.
Hoje em dia, eu diria que 80% das etapas, seja em que corrida for, são disputadas ao sprint. E quem é que pode tentar tirar disto vantagem? Os sprinters, pois está bom, de ver.

E como é que as coisas se processam na estrada?
Também posso explicar (mas todos vocês sabem). A, ou as, equipa(s) que têm nas suas fileiras homens com características de finalizadores, começam por tentar enquadrar a corrida de forma a que eventuais fugas sejam anuladas e, quanto mais próximo da meta melhor, porque isso significa que o pelotão, por essa altura, rolará a velocidades que, não raro, ultrapassam os 70 km/hora.

É uma situação que, convenhamos, não é para todos. E quais são as etapas nas quais acontecem maior número de quedas colectivas nos últimos 300 a 500 metros? Exactamente! Aquelas em que o pelotão se apresenta na recta final perfeitamente compacto. 150 corredores, ou mais...

E porquê?
Pois, porque, para além dos homens talhados para o sprint, e já só por isso, habituados à luta ombro a ombro nos metros finais, ALI está DEMASIADA gente para uma chegada que sabe, de antemão, não tem a mínima hipótese de ganhar.

Então qual será a solução?
Não sei exactamente qual a opinião do Josep Mumbru - espero que ele venha aqui ler isto e depois comente - mas não há, uma vez mais, nada para inventar.

Aliás, esta solução - que já é praticada, faço questão de sublinhar, porque eu não sou capaz de inventar nada - pode também ser a melhor resposta para a questão posta no n.º 22 (A supressão do fora de controlo).
E é genial. Se quiserem fazer o favor de continuar a ler...

Imaginem isto:
Etapas cuja ultima metade (só há duas metades, não é verdade?) seja disputada em circuito.
Ok, já estão a começar a antever...
Etapas de 140 km cujos últimos 80 km sejam disputados em circuitos de 8x10 km (os regulamentos emanados pela UCI PROÍBEM circuitos deste género com menos de 8 mil metros). O que é que isto começa por assegurar? Que as pessoas que acorrem à recta da meta vejam passar os corredores por... oito (!) vezes.
Quem diz oito diz quatro ou três. Menos do que isto é o mesmo que chover no molhado.

Vamos fixar-mo-nos o mínimo possível: três vezes.
E numa etapa que tenha a média dos quilómetros daquilo que tivemos na última Volta a Portugal, cerca de 150. Os últimos 50 km são corridos num circuito que fará os corredores pasar duas vezes na meta antes de a etapa acabar.

Agora entra a novidade: define-se que, havendo grupos distintos na corrida (o pelotão "partido"), sendo a diferença do grupo da frente para qualquer outro, maior do que o tempo que leva a percorrer meia volta (cerca de dez minutos) esse, ou esses grupos, PARAM na primeira passagem pela meta deixando o circuito livre para os que nele já estão.

O que é que isto significa? Que as estradas/ruas fechadas para a corrida passar não o estão por mais de uma hora. Importante, não é? Pois é!

E depois? Depois que a etapa será discutida APENAS por quem já estava no circuito quando o grosso do pelotão chegou, o que equivale a dizer: MENOS gente a discutir o sprint, logo, menos hipóteses de se gerar aquelas confusões que, não raro, redundam em quedas.

Mas, estarão agora a perguntar-se, e o que acontece aos dois terços do pelotão (digamos dois terços) que entrou atrasado no circuito e foi obrigado a parar? Que fazemos com ele?

É assim: o primeiro grupo, aquele que entrou no circuito e "fez" com que o resto do pelotão parasse, correrá, em termos de média, os 50 km finais bem mais depressa do que a média (média: de todo o pelotão) que seria possível conseguir-se. Ainda assim, haverá, de certeza, UMA VOLTA na qual essa média é maior. Pois bem, é adjudicado ao pelotão (que foi mandado parar) o tempo com que entrou de atraso ao grupo da frente MAIS O MELHOR tempo feito pelo mesmo grupo nas voltas que fez sozinho. Tempo que esse pelotão, por vir atrasado e sem objectivo, jamais conseguiria fazer naqueles últimos quilómetros. NÃO PERDEM NADA. Antes pelo contrário. Fazem menos 50 km que os do grupo da frente.

Mas faz algum sentido que parte do pelotão faça menos 50 km do que os outros?
Vejam isso sob este prisma que adianto: Se a chegada é, previsielmente, ao sprint, nos últimos quilómetros só as equipas que têm sprinters trabalham. Só as equipas que têm os MELHORES sprinters trabalham. Os outros vão na correnteza. Nessas etapas, só a 15/20 quilómetros da meta é que a corrida ganha alguma vida... para se tentar (e consegue-se sempre) anular aquelas longas fugas que, hoje em dia, não valem nada. Nem publicidade!

Então, o que é que acontece assim? Em vez de deixarem a fuga alargar-se até aos 15/10 quilómetros finais, as equipas dos bons sprinters vão ter que anular as fugas ANTES de se chegar ao circuito final e depois posicionarem os seus lançadores na frente. Feito isso, os restantes podem "levantar o pé". Na frente ficam os 4 ou 5 bons sprinters, mais os seus dois ou três lançadores (por cada um) o que já dá 15, mais alguns que, e natural, no dia-a-dia não desistem de tentar que... seja o seu dia. 30 corredores, imaginemos.

Ok... Então seguem 30 e os outros 100 encostam à primeira passagem se já vierem de tal forma atrasados que não é suposto conseguirem alcançar o grupo da frente?

Claro! E, afinal, com o que é que ficamos? Tirando os 10/12 lançadores, que apenas prepararão a chegada para os SEUS sprinters, teremos 18/20 corredores a lutarem até ao limite das suas forças para... ganharem a etapa. E o que é que o público quer? Ver quem vai ganhar a etapa, não é o grosso da coluna a rolar só para acabar a tirada. São três voltas como se de uma corrida de pista se tratasse, com todos a puxar porque todos querem ganhar.

Quem conclui a etapa terá o seu tempo real, os que foram "encostados" terão o tempo com o qual cortaram a meta naquela que seria a sua primeira passagem, acrescido do MELHOR tempo que os outros fizeram nas três voltas! Dificilmente haverá alguém que, ao fim de 100 km esteja em risco de ser eliminado. Dificilmente aquele grupo, já atrasado e sem pretensões à vitória na etapa faria o MELHOR tempo do grupo que LUTA PARA GANHAR a etapa. E o p úblico não fica a bocejar à espera que os atrasaditos cheguem. Vê-os a todos, porque todos passam na meta uma vez. E depois fica disponível para ver OS MELHORES do dia, que ainda passam duas vezes pela meta antes de terminarem. UMA HORA de ciclismo a sério. Só para quem quer ganhar a etapa.

Parece o tal "ovo de Colombo" não parece?
Não fui eu quem o inventou. Na VOLTA À POLÓNIA é assim. Talvez por isso a Volta à Polónia nos tenha ultrapassado e entrado para o ProTour! Já pensaram nisso?
E entre passagens sobra muito pouco tempo para os "josés castelo branco" lá do sítio. Com speakers a sério - os nossos speakers (agora são dois) são MAUS! Ponto final, M.A.U.S... não percebem nada daquilo!... - dizia, com speakers a sério, écrans gigantes onde, da recta da meta, se pudesse assistir a TODO o circuito... eis a imagem de uma tarde de ciclismo a sério.

O que custa fazer? Façam as contas - quem de direito - ou ter uma estrada cortada, com o devido policiamento, durante duas horas ou SÓ UMA!
É metade, não é?

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