quinta-feira, outubro 05, 2006

251.ª etapa


ETAPA 249: TOCOU O SINO!


De repente, e sem que eu o tivesse previsto, eis que ao artigo da Etapa 249 aparecem duas pessoas a responder, ambas, deduzo, ligadas ao ciclismo e com um grande conhecimento de causa. Respeito o facto de não terem revelado a sua identidade, mas gostava muito de saber quem são. Podem fazê-lo para o meu mail. Ao abrigo do juramento de que não revelarei jamais quem me dá uma informação, podem fazê-lo.

Enquanto isso, ambos mostraram que sabem do que falam. Ainda bem. Já o disse - e tal nem seria necessário - um Blog não é exactamente um Fórum, mas eu quero saber das opiniões de todos vocês. Entre todos havemos de arranjar ideias - e porque não soluções? - para, dentro do que nos é possível, ajudar o ciclismo em Portugal a dar um passo em frente.

O meu primeiro interlocutor fez-me explanar aquilo que acho se deve fazer de IMEDIATO para que o ciclismo em Portugal se mantenha de pé. Isto, para além de ter tocado em dois ou três pontos bastante sensíveis que marcam a realidade que vivemos. É verdade, estamos a apimbalhar o ciclismo.

O segundo - que é evidente me conhece - põe, sem medos, o dedo na "ferida" que é a cobertura feita pela Comunicação Social. E tem razão naquilo que diz.

Ao primeiro, respondi com uma contra-resposta. Agora acho que devo responder ao segundo aqui, de forma a que o assunto não passe despercebido à maioria dos leitores do VeloLuso.

É triste e pobre a cobertura que os OCS fazem da Volta. Das outras provas nem vale a pena falar.

Mas, poderão vocês todos, e com inteira propriedade, dizer: mas tu és o mais antigo jornalista de ciclismo, da escrita e em actividade. Porque não fizeste nada em contrário, então?

É mais complicado do que parece, mas vocês têm razão. A última mensagem (a esta hora) que podem ler no artigo 249 é disso uma amostra.

Fazem-se entrevistas com o mais velho e o mais novo do pelotão... faz-se uma etapa no carro de uma equipa, faz-se uma etapa no carro da polícia, no carro vassoura, na âmbulância. E não percebemos o bocejo que isso é para os leitores.

Não sei - não consigo perceber só por esta mensagem - quem é o "pedaleiragrande", ou lá como é que se identificou, mas tem razão.

Agora, é assim... não vou eu por o pescoço no cepo para que vocês possam cortar-me a cabeça, só porque os outros jornais mandam jornalistas que nem sabem distinguir as equipas pelos equipamentos. Tenho responsabilidades? Terei. E discutirei este assunto se o fizermos em termos globais.

Há, no tal último comentário ao artigo 249, uma referência explicita ao último dos jornais desportivos que foi o "jornal oficial". Os outros dois já o tinham sido, incluindo o meu, durante dois anos.

Quem manda, e auxiliando-se dos exemplos dos anos 60 e 70, achou que A BOLA tem um papel social a desempenhar. Eu também acho. Mas nesses anos 60/70, o repórter d'A BOLA ia "cair" num país totalmente diferente do que era Lisboa. Eram os tempos do pastorinho a guardar cabras e que nem sabia ler... era o tempo, desculpem-me o exagero da "imagem", da "mulher de barbas" que ia lavar a roupa ao barranco. E eu fui traído - mas assumo a minha responsabilidade - pela paixão com que me falaram do "mundo à volta da Volta" que teríamos que contar.

Mas hoje... que há que contar? Há mais discotecas na zona de Castelo Branco do que há no Bairro Alto. Pastorinhos? Mas aonde é que estão? Velhinhos de cajado? Ah!... numa qualquer aldeia do Alentejo ainda se encontram, mas nem a Volta passa por lá nem se é capaz, depois, de encontrar uma "estória" que encaixe no trabalho da Volta.

Que sobra? Os mecânicos e os massagistas? O carro vassoura? Está bem. Faz-se uma vez fica feito e eu já fiz isso tudo.

Alternativas? Há-as. Pois há. Ainda há pouco estive a rever as imagens da primeira etapa da Volta deste ano. A dada altura, e depois de ter iso ao seu carro de apoio, o Fernando Sousa (Madeinox) ia sendo "passado a ferro" pelo carro de apoio de outra equipa. Qual foi o jornal que no dia seguinte falou nisso? Eu digo já... NENHUM! Podia-se ter ouvido o corredor, o seu director-desportivo... principalmente o outro. Porque é que como é que não viu o corredor à frente do seu carro.

Mas digo mais. Quando dos jogos de futebol, vai uma equipa de 6 ou 7 redactores para o estádio e ficam mais 2 ou 3 na redacção a ver pela TV. E telefonam para os primeiros a dar-lhes conta de pormenores que lhes podem passar despercebidos. Na Volta - fiz 9, n'A CAPITAL, sozinho... desde 2000, n'A BOLA comando uma equipa de reportagem com mais dois redactores e um fotógrafo, que faço?

Sentamo-nos os 4 na Sala de Imprensa à espera que um carro de apoio atropele um corredor? Mas e se não acontece nada? Como preencho as 8 páginas que tenho que preencher? Ok, um deles que saia à procura de estórias paralelas. E fizemo-lo. Não têm é o impacto das estórias dos anos 60/70 do século passado. O País mudou. Lisboa ainda é a capital mas o resto já não é a mesma "província" que era.

Nem as pessoas que hoje lêem jornais são tão receptivas a esse género de reportagem que cada vez é mais difícil de encontrar.

Voltemos então um pouco atrás. Fala-se TODOS os dias com os massagistas, os mecânicos e os guardas do destacamento da GNR? Se até os protagonistas do dia-a-dia não conseguem dizer mais do que o estereotipado "foi muito difícil, estou muito contente, dedico a vitória à minha família"...

Que saída têm então os jornais? A leitura crítica da etapa! Mas para isso é preciso perceber-se... muito de ciclismo. E quantos jornalistas há na nossa praça que saibam muito de ciclismo?

Eu tenho um modelo (que, compreenderão, guardo para mim porque ainda espero fazer mais algumas voltas a Portugal) mas nem eu estou seguro de que funcione. É que, entretanto, surgiu um novo "inimigo": a hora de fecho das páginas. E a haver páginas a ficar para a última hora são as de futebol, mesmo que depois não aconteça nada e se preencham duas páginas com uma foto que, só por si, ocupa o espaço equivalente a uma delas. Entretanto, as modalidades tiveram que fechar às 22.00, com os assuntos reduzidos a breves e encavalitados uns nos outros. E contra isto eu não posso fazer nada.

Na tal última resposta ao artigo 249, aponta-se o dedo ao facto de o jornal oficial deste ano nem ter levado um fotógrafo próprio. Mas não é só o fotógrafo. Tem que ser um fotógrafo numa moto de forma a poder andar dentro da corrida e de forma a, como vemos na TV no Tour ou no Giro, ou na Vuelta, se, por exemplo, acontecer uma queda, possa lá ir, desmontar fotografar, voltar a montar e recuperar a corrida.

Se isso não for possível, para que me serve um fotógrafo? Para tirar um retrato aos massagistas a prepararem os bidons antes da etapa? E no segundo dia? Vou falar com os massagistas de outra equipa a fazerem exactamente o mesmo?

Para quem está de fora, acredito - e eu sou leitor de jornais - que olhem para as reportagens e as achem falhas de qualquer coisa. Serão. São-no, estou certo, mas não é fácil planear uma etapa.

Um jogo de futebol é... dois jornalistas para a tribuna de imprensa, mais dois para recolherem depoimentos na zona mista, mais um ou dois para irem à procura dos VIP. Os fotógrafos... é fácil. Colocam-se atrás das balizas para tentarem apanhar os golos.

Mas, como se traduz isto para uma corrida de ciclismo? Onde mando os repórteres? Onde ponho o fotógrafo? É uma dor de cabeça.

Mas, repito, eu sei como faria 4 páginas plenas de vida e de interesse. Mas se os companheiros que vão comigo não fazem a mínima ideia de porque é que a equipa A está a puxar no pelotão, ou a equipa B mete dois homens numa fuga que, aparentemente não vai dar em nada...
E eu sozinho não consigo escrever 8 páginas em tempo útil. Todos os dias.

Mas, assim mo permita o destino, ainda hei-de fazer o que tenho em mente. E será algo que revolucionará a cobertura, em jornais, de uma volta a Portugal. Assim eu viva para isso...

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