[Acordo Ortográfico] # SOU FRONTALMENTE CONTRA! (como dizia uma das mais emblemáticas actrizes portuguesas, já com 73 anos, "quem não sabe escrever Português... aprenda!») PORTUGUÊS DE PORTUGAL! NÃO ESCREVEREI, NUNCA, NUNCA, DE OUTRA FORMA!
quinta-feira, outubro 05, 2006
251.ª etapa
ETAPA 249: TOCOU O SINO!
De repente, e sem que eu o tivesse previsto, eis que ao artigo da Etapa 249 aparecem duas pessoas a responder, ambas, deduzo, ligadas ao ciclismo e com um grande conhecimento de causa. Respeito o facto de não terem revelado a sua identidade, mas gostava muito de saber quem são. Podem fazê-lo para o meu mail. Ao abrigo do juramento de que não revelarei jamais quem me dá uma informação, podem fazê-lo.
Enquanto isso, ambos mostraram que sabem do que falam. Ainda bem. Já o disse - e tal nem seria necessário - um Blog não é exactamente um Fórum, mas eu quero saber das opiniões de todos vocês. Entre todos havemos de arranjar ideias - e porque não soluções? - para, dentro do que nos é possível, ajudar o ciclismo em Portugal a dar um passo em frente.
O meu primeiro interlocutor fez-me explanar aquilo que acho se deve fazer de IMEDIATO para que o ciclismo em Portugal se mantenha de pé. Isto, para além de ter tocado em dois ou três pontos bastante sensíveis que marcam a realidade que vivemos. É verdade, estamos a apimbalhar o ciclismo.
O segundo - que é evidente me conhece - põe, sem medos, o dedo na "ferida" que é a cobertura feita pela Comunicação Social. E tem razão naquilo que diz.
Ao primeiro, respondi com uma contra-resposta. Agora acho que devo responder ao segundo aqui, de forma a que o assunto não passe despercebido à maioria dos leitores do VeloLuso.
É triste e pobre a cobertura que os OCS fazem da Volta. Das outras provas nem vale a pena falar.
Mas, poderão vocês todos, e com inteira propriedade, dizer: mas tu és o mais antigo jornalista de ciclismo, da escrita e em actividade. Porque não fizeste nada em contrário, então?
É mais complicado do que parece, mas vocês têm razão. A última mensagem (a esta hora) que podem ler no artigo 249 é disso uma amostra.
Fazem-se entrevistas com o mais velho e o mais novo do pelotão... faz-se uma etapa no carro de uma equipa, faz-se uma etapa no carro da polícia, no carro vassoura, na âmbulância. E não percebemos o bocejo que isso é para os leitores.
Não sei - não consigo perceber só por esta mensagem - quem é o "pedaleiragrande", ou lá como é que se identificou, mas tem razão.
Agora, é assim... não vou eu por o pescoço no cepo para que vocês possam cortar-me a cabeça, só porque os outros jornais mandam jornalistas que nem sabem distinguir as equipas pelos equipamentos. Tenho responsabilidades? Terei. E discutirei este assunto se o fizermos em termos globais.
Há, no tal último comentário ao artigo 249, uma referência explicita ao último dos jornais desportivos que foi o "jornal oficial". Os outros dois já o tinham sido, incluindo o meu, durante dois anos.
Quem manda, e auxiliando-se dos exemplos dos anos 60 e 70, achou que A BOLA tem um papel social a desempenhar. Eu também acho. Mas nesses anos 60/70, o repórter d'A BOLA ia "cair" num país totalmente diferente do que era Lisboa. Eram os tempos do pastorinho a guardar cabras e que nem sabia ler... era o tempo, desculpem-me o exagero da "imagem", da "mulher de barbas" que ia lavar a roupa ao barranco. E eu fui traído - mas assumo a minha responsabilidade - pela paixão com que me falaram do "mundo à volta da Volta" que teríamos que contar.
Mas hoje... que há que contar? Há mais discotecas na zona de Castelo Branco do que há no Bairro Alto. Pastorinhos? Mas aonde é que estão? Velhinhos de cajado? Ah!... numa qualquer aldeia do Alentejo ainda se encontram, mas nem a Volta passa por lá nem se é capaz, depois, de encontrar uma "estória" que encaixe no trabalho da Volta.
Que sobra? Os mecânicos e os massagistas? O carro vassoura? Está bem. Faz-se uma vez fica feito e eu já fiz isso tudo.
Alternativas? Há-as. Pois há. Ainda há pouco estive a rever as imagens da primeira etapa da Volta deste ano. A dada altura, e depois de ter iso ao seu carro de apoio, o Fernando Sousa (Madeinox) ia sendo "passado a ferro" pelo carro de apoio de outra equipa. Qual foi o jornal que no dia seguinte falou nisso? Eu digo já... NENHUM! Podia-se ter ouvido o corredor, o seu director-desportivo... principalmente o outro. Porque é que como é que não viu o corredor à frente do seu carro.
Mas digo mais. Quando dos jogos de futebol, vai uma equipa de 6 ou 7 redactores para o estádio e ficam mais 2 ou 3 na redacção a ver pela TV. E telefonam para os primeiros a dar-lhes conta de pormenores que lhes podem passar despercebidos. Na Volta - fiz 9, n'A CAPITAL, sozinho... desde 2000, n'A BOLA comando uma equipa de reportagem com mais dois redactores e um fotógrafo, que faço?
Sentamo-nos os 4 na Sala de Imprensa à espera que um carro de apoio atropele um corredor? Mas e se não acontece nada? Como preencho as 8 páginas que tenho que preencher? Ok, um deles que saia à procura de estórias paralelas. E fizemo-lo. Não têm é o impacto das estórias dos anos 60/70 do século passado. O País mudou. Lisboa ainda é a capital mas o resto já não é a mesma "província" que era.
Nem as pessoas que hoje lêem jornais são tão receptivas a esse género de reportagem que cada vez é mais difícil de encontrar.
Voltemos então um pouco atrás. Fala-se TODOS os dias com os massagistas, os mecânicos e os guardas do destacamento da GNR? Se até os protagonistas do dia-a-dia não conseguem dizer mais do que o estereotipado "foi muito difícil, estou muito contente, dedico a vitória à minha família"...
Que saída têm então os jornais? A leitura crítica da etapa! Mas para isso é preciso perceber-se... muito de ciclismo. E quantos jornalistas há na nossa praça que saibam muito de ciclismo?
Eu tenho um modelo (que, compreenderão, guardo para mim porque ainda espero fazer mais algumas voltas a Portugal) mas nem eu estou seguro de que funcione. É que, entretanto, surgiu um novo "inimigo": a hora de fecho das páginas. E a haver páginas a ficar para a última hora são as de futebol, mesmo que depois não aconteça nada e se preencham duas páginas com uma foto que, só por si, ocupa o espaço equivalente a uma delas. Entretanto, as modalidades tiveram que fechar às 22.00, com os assuntos reduzidos a breves e encavalitados uns nos outros. E contra isto eu não posso fazer nada.
Na tal última resposta ao artigo 249, aponta-se o dedo ao facto de o jornal oficial deste ano nem ter levado um fotógrafo próprio. Mas não é só o fotógrafo. Tem que ser um fotógrafo numa moto de forma a poder andar dentro da corrida e de forma a, como vemos na TV no Tour ou no Giro, ou na Vuelta, se, por exemplo, acontecer uma queda, possa lá ir, desmontar fotografar, voltar a montar e recuperar a corrida.
Se isso não for possível, para que me serve um fotógrafo? Para tirar um retrato aos massagistas a prepararem os bidons antes da etapa? E no segundo dia? Vou falar com os massagistas de outra equipa a fazerem exactamente o mesmo?
Para quem está de fora, acredito - e eu sou leitor de jornais - que olhem para as reportagens e as achem falhas de qualquer coisa. Serão. São-no, estou certo, mas não é fácil planear uma etapa.
Um jogo de futebol é... dois jornalistas para a tribuna de imprensa, mais dois para recolherem depoimentos na zona mista, mais um ou dois para irem à procura dos VIP. Os fotógrafos... é fácil. Colocam-se atrás das balizas para tentarem apanhar os golos.
Mas, como se traduz isto para uma corrida de ciclismo? Onde mando os repórteres? Onde ponho o fotógrafo? É uma dor de cabeça.
Mas, repito, eu sei como faria 4 páginas plenas de vida e de interesse. Mas se os companheiros que vão comigo não fazem a mínima ideia de porque é que a equipa A está a puxar no pelotão, ou a equipa B mete dois homens numa fuga que, aparentemente não vai dar em nada...
E eu sozinho não consigo escrever 8 páginas em tempo útil. Todos os dias.
Mas, assim mo permita o destino, ainda hei-de fazer o que tenho em mente. E será algo que revolucionará a cobertura, em jornais, de uma volta a Portugal. Assim eu viva para isso...
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