sábado, outubro 28, 2006

298.ª etapa


UM HOMEM NÃO MORRE ENQUANTO HOUVER QUEM O RECORDE


O ciclismo de Hoje é, parece uma barbaridade dizer isto, feito pelos homens de Hoje. Mas não nos podemos esquecer nunca daqueles que antes contribuiram para que o ciclismo, ainda que uma forma particular, tivesse progredido no tempo. Não há História sem memória e não há, também, quem consiga perdurar na memória curta dos Homens se não tiver tido uma vida que o tenha destacado do comum dos seus pares.
É o caso.

Lembro, hoje, aqui, e numa singela homenagem que não poderia deixar de lhe prestar, um dos homens que mais lutou, e de si deu, para que, há vinte anos… vinte anos e alguma coisa (e mais, daí para cá), o Ciclismo português saísse de vez do “faz-que-é-mas-não-é” que ficara desde depois da Revolução de Abril, em 1974.

Estou a falar de Manuel Francisco Branco. “Maduro”, para os amigos do Ciclismo.
De Manuel Maduro.

Tive a felicidade de ainda ter chegado a tempo de ser seu amigo. Não vou abusar desta designação. O Manuel Maduro era um homem que andava “há séculos” no Ciclismo quando eu cheguei, mas às vezes acontece a gente chegar e conseguir “trepar” vários degraus de uma vez. Acho que foi o que aconteceu entre mim e o Manel Maduro.

Foi director do Sporting, tal como o seu grande amigo, Artur Lopes – o actual Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo – e também do Lousa, equipa da zona em que nascera e vivia. Depois, e ao mesmo tempo que a Sicasal embrionava com a “ajuda" do Torreense, lançou o que seria o protótipo das equipas de hoje.
Uma marca acima do clube.

Ao mesmo tempo que a Sicasal o fazia em Torres Vedras, ele, que até era natural de bem perto – um homem do Oeste – dava a cara pela equipa suportada pelos empreendimentos Vale do Lobo e ligada ao Louletano.

Já fora Director-desportivo do Lousa (bem mais perto, geograficamente, do seu rincão natal), depois do Sporting. Apareceu assim no primeiro plano ao serviço do Louletano. Havia um elo de ligação que, não o escamoteamos, continua hoje como uma das primeiras figuras do ciclismo nacional: Joaquim Gomes.
Com ele, e por ele, mudou-se do Sporting para o Louletano-Vale do Lobo. Com ele e por ele, passou de novo ao Lousa – então, Calbrita-Lousa – em definitiva “guerra”” com a Sicasal. Depois do falhanço deste projecto, retirou-se. Pôs-se a sim mesmo de lado.

Até que, em 1986 – faz agora dez anos – e quando o “seu” corredor, que era Joaquim Gomes, estava sem equipa porque a Sicasal acabava, não resistiu ao apelo. Voltou e, com Gomes, então já com outras preocupações para além do correr, formaram, assentes no apoio de Luís Almeida (LA) uma nova equipa.

Foi por essa altura que o conheci.

Depois, o trato fácil e um pormenor que terá escapado à maioria dos colegas jornalistas de Ciclismo – ele gostava de futebol (e ia várias vezes a Alverca, que já estava na I Divisão, e onde nos encontrávamos) – aproximou-nos. Eu lembro-me dele e do Vítor Paulo (pouco-mais-que-um-menino) à entrada do Campo do FC Alverca, instantes antes de entrarmos, eles, para verem o jogo, eu para escrever a crónica para a A CAPITAL.

O Manel Maduro morreu faz hoje oito anos.

Infelizmente, nenhum jornal recordará a data.
Mas é, também para isso, que o VeloLuso serve.
Para que, quando eu um dia morrer, haja alguém que, mesmo que fosse só por o ter lido aqui, não esqueça que houve pessoas que, antes de nós, deram o que tinham e o que não tinham pelo Ciclismo.

Porque isso de ser adepto de sofá até que é giro!...
Mas não deixa testemunhos.



A festa que Manuel Maduro já não pode viver...


5 comentários:

mzmadeira disse...

Não percebi...

Nuno Inácio disse...

Este sábado aproveitei para ver toda a correspondência acumulada na prateleira dos “jics”.
E não imaginas como foi estranho, ao ler o teu post, olhar para uma carta assinada pelo Srº Luís Almeida, onde, como sempre o fez, disponibiliza a sua formação para participar em eventos por nós organizados.
O estranho não foi ver a disponibilidade, pois essa sempre existiu, mas sim ver o nome da equipa do "Manel Maduro" ser agora associado à sua “adversária” de sempre, o que, na minha humilde opinião, nunca teria acontecido se o grande Maduro ainda por cá estivesse.

mzmadeira disse...

Caro Nuno, a equipa do Manuel Maduro continua a mesma de sempre e sempre com os seus filhos Vítor Paulo e Alexandre à frente. Até podia não ter contecido assim mas, mesmo que tivesse sido outra pessoa a tocar o controlo da equipa, a equipa do Manuel Maduro foi, é e esperamos todos possa ainda vir a ser durante mais alguns anos, aquela que ele fundou, na Charneca, com o Joaquim Gomes e o engenheiro Mena Antunes, com o apoio do Luís Almeida.

Contudo, reconheço que não vai ser fácil às pessoas perceberem à primeira que a LA agora é a Maia!
Também, foram dez anos sempre a patrocinar e a dar o nome à equipa, ou oito, até chegar a Liberty, mas mesmo nessa altura a LA manteve-se.

Mas voltando à tua questão... não foi a equipa que se mudou para a Maia... foi "só" o patrocinador...

E não podemos cometer a injustiça de negar ao Vítor Paulo Branco tudo o que fez (e faz) para manter na estrada a formação que o pai criou há dez anos.

RuiQuinta disse...

Manuel Maduro é dos poucos nomes que faço, facilmente, a ligação a uma obra (dos que não são ciclistas nem dd's, claro).

Ajudou Joaguim Gomes, ajudou a Sicasal, ajudou a LA e muito ajudou o ciclismo português.

mzmadeira disse...

Um grande, grande abraço para ti Fernando. Fico contente por te ver por aqui...