segunda-feira, agosto 13, 2007

784.ª etapa


ERROS DE CÁLCULO, ENGANOS...
E OUTRAS SAÍDAS EM FALSO

O que é que terá falhado? Será, nestes dias, a pergunta que quem está mais directamente ligado ao Ciclismo luso se põe.
O traçado era, no papel, um dos mais duros dos últimos anos, o lote de candidatos aparecia fortemente reforçado, não só com a presença de José Azevedo, no regressado Benfica, mas também, por exemplo, com a Relax, de Oscar Sevilla e Paco Mancebo…

Olhávamos para trás, para a edição do ano passado e, sendo certo que muito poucos – ou ninguém mesmo – arriscariam num prognóstico que aquela coisa esquisita de dez etapas, nove vencedores e nove líderes, com a Camisola Amarela a mudar todos os dias de dono, se repetiria, mas quem seria capaz de, há 10 dias, apostar a descoberto que, Senhora da Graça incluída, todas as etapas seriam disputadas… ao sprint?

Ok, no caso da Senhora da Graça não foi exactamente um sprint, mas reparem, o ano passado, entre a chegada do primeiro, João Cabreira (Maia) e do terceiro, o austríaco Christian Pfannberger (ELK), passaram 17 segundos; este ano, nesse mesmo lapso de tempo cortaram a meta seis corredores. O segundo, o ano passado, Hector Guerra (Liberty Seguro) chegou 13 segundos depois de Cabreira, no sábado, 11 segundos depois de Eládio Jimenez (Karpin-Galicia) já tinham cortado a meta mais três corredores. O 21.º, este ano, Hugo Sabido, da Barloworld, só gastou mais um segundo que o… quinto, o ano passado.

Ok, não foi uma chegada ao sprint… mas faltou muito pouco.

Mas as outras sete etapas foram discutidas, senão, sempre, pelo bloco compacto, pelo menos por um grupo suficientemente grande para merecer a etiqueta de pelotão. Terá sido o 1.º pelotão.

O ano passado, à 8.ª etapa – sem prólogo, recorde-se – o líder, Pffanberger tinha os mesmos 27 segundos de vantagem sobre o segundo classificado que o Cândido tem neste momento, e o 3.º – João Cabreira – até estava mais próximo, a apenas 34 segundos, mas apenas em três das etapas tinha acontecido uma chegada em grupo compacto.

Houve mais liberdade? Menos controlo?
Mas este ano tivemos Gouveia, com duas passagens na meta que coincidia com uma contagem para o prémio da montanha. E tivemos uma chegada nova, ao alto do Monte Córdova (Santo Tirso) que até era de 2.ª categoria. Ambas decididas em sprint massivo!

Foi o regresso do Benfica? Mas o sprinter encarnado só hoje se aproximou da meta na frente! A presença de Sevilla? Mas este tem-se limitado a chegar com os da frente porque o levam até lá!

Estavam as equipas da segunda linha do pelotão mais fortes, ao ponto de, do Boavista à Madeinox, passando pelo Tavira e por uma quase desconhecida austríaca, a ELK, terem conseguido andar de amarelo?

Houve excesso de confiança da Liberty Seguros onde morava – como ainda mora – o mais sério candidato à vitória final?

A Volta do ano passado era para o Cândido!
Terá sido por isso?

Este ano, com, teoricamente, maiores dificuldades do percurso e uma concorrência mais… palpável, a formação de Américo Silva esteve mais activa? Esteve.
Esteve sim senhor.
E o facto de a Maia, por exemplo, ter saído sem um candidato designado também terá contribuído?
Talvez…

Para mim, uma possível explicação – porque não tenho A explicação – assenta em dois pontos. O primeiro, todo o espalhafato, passe a expressão, levantado em torno da chegada ao Monte Córdova. Que ditaria diferenças assinaláveis, que isto e que aquilo… Afinal, bastou à Liberty Seguros controlar a corrida para que a chegada fosse ao sprint e… o Cândido ganhasse.

Uma vitória importantíssima para o Cândido, porque foi a segunda consecutiva. O moral que ele aí conquistou funcionou de forma diametralmente oposta em relação aos adversários mais directos.

A verdade é que, numa Volta desenhada contra o Cândido – ATENÇÃO, isto é apenas uma imagem, nem sequer é a minha opinião! – pode ser A Volta do Cândido.

Mas convém dar uma olhadela ao que os seus mais directos adversários fizeram até aqui para contrariar a sucessão de segundos ganhos em bonificações pelo corredor da Liberty Seguros. Nada de importante, apenas 48 segundos!!!
Ao fim de oito etapas – deixando o prólogo de fora – o Cândido conseguiu apenas esta proeza… estatisticamente chegou todos os dias oito segundos antes dos seus principais rivais. É obra.

Tendo em conta que nos sprints se alcançam velocidades de 70 km/hora, o Cândido, brincando com os números, chegou todos os dias com 150 metros de avanço sobre os seus mais directos rivais.
É preciso ter pernas!

E a verdade – e voltando atrás – é que não creio que as equipas do segundo pelotão nacional (bem reforçadas com as estrangeiras) tenham perdido ambição.

A grande diferença, do ano passado para este ano, é que a Liberty Seguros esteve sempre muito mais activa.
Dizendo de outra forma, o ano passado esteve demasiado condescendente…

E o que é que a etapa de amanhã nos pode trazer?
Ah!, pois é… quem é que se atreve a fazer prognósticos?

Se o único adversário do Cândido fosse o Zé Azevedo… eu até arriscaria. Até porque foi o Benfica a única equipa que, quando quis, abanou todo o pelotão. Porque o não fez de forma definitiva… isso só o Orlando Rodrigues pode explicar.

Mas amanhã não é só o Benfica que vai querer levar o Zé ao topo da classificação. Quando o Benfica tentar atacar, vai levar na roda o David Blanco, o David Bernabéu, o Oscar Sevilha… e o Cândido. Uma coisa é tentar sacudir um adversário. Outra, completamente diferente é tentar ganhar terreno a meia dúzia deles.
E vai haver sempre uma roda à qual, mesmo que fique sem companheiros, o Cândido se vai agarrar.

E não se riam… há a grande possibilidade de Benfica, Karpin-Galicia, Fuerteventura, DUJA-Tavira, Relax… levarem o Cândido até aos duzentos metros finais.
E se isso acontecer?
Quem é que vai ganhar e aumentar ainda mais o seu pecúlio?
O Cândido, claro.

Quem vai passar pior a noite vai ser o Orlando Rodrigues. O Zé talvez não. Mas não ignora nem uma letra disto que estou a escrever 17 horas antes da chegada à Torre.

Aquilo que já deveria ter sido feito, num qualquer dos dias que já passaram e não há maneira de voltar atrás, é sacudirem o Cândido o mais depressa possível.

É a parte A do, agora, Plano Único.
Aquela nova subida, a menos de 50 quilómetros da meta, ditará a sorte da corrida.
Ditará?
Bem, não é só o Benfica que quer ganhar a Volta.

A questão que se põe é esta: que é que vai fazer a LA-MSS-Maia? E a DUJA-Tavira? E a Relax? E a Fuerteventura?
O lógico era, em conjunto, anularem o mais depressa possível o grande adversário de todos, o Cândido. Mas também no Ciclismo o melhor ataque é a defesa. O problema é que há medo. Medo concreto e palpável no seio de todas as outras equipas com candidatos.

Um contra um, que é como quem diz, e continuando a usar o exemplo do Benfica… até era relativamente fácil de resolver. Para 150 dos corredores que amanhã vão estar à partida, a Volta já acabou. Incluindo para todos os companheiros de equipa de cada um dos candidatos. Logo, queimar corredores – no sentido desportivo da coisa, e quem sabe de ciclismo sabe o que estou a dizer – não seria problema.

O problema está centrado aqui: quem é que vai estar disposto a queimar primeiro os seus corredores?

Fá-lo o Orlando? Permitindo aos gregários do Blanco, do Bernabéu, do Sevilla, do Tondo… que se mantenham com os seus chefes-de-fila, deixando o Zé sozinho antes da hora?
Fá-lo-á qualquer dos directores-desportivos das outras equipas?
Não!

E do faz-que-vai-mas-na-verdade-não–vai só há um Corredor que pode tirar dividendos: o Cândido Barbosa. Que até pode levar a equipa toda com ele porque, de certeza, não vamos ver a Liberty Seguros a puxar nem um metro.

E no alto da Torre vamos voltar a ter diferenças de três, cinco, sete… dez segundos entre os principais candidatos.

Que venha o crono de Viseu para dizer quem foi o melhor desta Volta!
E, já agora, Joaquim Gomes, para o ano que vem tenta pôr o crono a meio da corrida.

A seguir ao dia de descanso. Antes de uma das chegadas em alto que, mantendo-se a alternância, para o ano será a Senhora da Graça.

Mas que fique bem claro uma coisa: está viva e cheia de interesse esta Volta.
Todos batemos palmas ao traçado, pensando que, por esta altura, o futuro vencedor já só tinha que controlar os seus adversários.
Afinal de contas… não é isso que está a acontecer?

Os erros tácticos da concorrência terão que ser digeridos… internamente.

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