sexta-feira, agosto 24, 2007

821.ª etapa


ESPANHÓIS REFORMULAM A SUA OPINIÃO
SOBRE O CICLISMO EM PORTUGAL

Podemos, na edição desta semana do semanário valenciano Meta2Mil, ler mais um magnífico – e importante – contributo para a divulgação do Ciclismo português em Espanha. E isso é importante, sim.
Tão perto e tão longe. Foi assim que vivemos durante muitas – demasiadas – décadas. Em todas as áreas. Incluindo, claro está, o desporto.
As coisas mudaram. Estão a mudar.

Começou com o futebol. Há 20 anos. Mais coisa, menos coisa.
Lembro-me da “estranheza” de ver partir o falecido Vítor Damas, mais o Oceano, para o Racing Santander. Mais tarde o Paulo Bento para Oviedo. Todos são ainda recordados nas principais peñas destes clubes. O actual técnico do Sporting ainda vai, quase de propósito, reencontrar velhos amigos à capital das Astúrias.

Muito tempo depois, o Figo, o Simão, o Ricardo Quaresma, no grande Barcelona.
Hoje já são tantos que nem dá para contar…

Mas no Ciclismo também tivemos emigrantes de luxo, em Espanha.

Embora tenha estado quase sempre ligado ao francês Jean De Gribaldy, Joaquim Agostinho chegou a representar a espanhola Kas, tal como José Martins, o pai dos actuais corredores Gilberto e Lizuarte Martins. Também o Acácio da Silva correu na equipa daquela marca de refrigerantes.

Fernando Carvalho, vencedor da Volta a Portugal de 1990, correu na Paternina, Manuel Zeferino na Zor, Manuel Cunha na Clas e Américo Silva foi pedra basilar na Artiach que, em 1993 veio buscar o Orlando Rodrigues à Sicasal. E como a marca de bolachas tinha interesses em Portugal – era a Royal – passou a vir correr cá. E em 1994 e 1995 fez a dobradinha na Volta exactamente com o Orlando Rodrigues.

Para mim, é aqui que começa a Era Moderna de uma ligação entre o ciclismo dos dois países.

O Troféu Joaquim Agostinho, a mais antiga prova portuguesa no calendário internacional, a princípio optou pelo convite a equipas do Leste europeu e isto tem uma explicação, é que nessa altura o Ciclismo europeu (e mundial) estava dividido entre profissional – todos os países a oeste da Cortina de Ferro –, e “amador”, representado pelos países de Leste onde não era reconhecido o profissionalismo para os desportistas.

E o Troféu estava no calendário dos amadores.

Mesmo a Volta, quando passou a internacional, privilegiava as formações italianas…
No meio tempo… Boavista e Sicasal tiveram as suas experiências na Vuelta. Destaque para um excelente 10.º lugar final do Joaquim Gomes, pelos axadrezados.

Quintino Rodrigues, na Kelme, e Vítor Gamito, na MX-Onda ou Estepona, também tiveram as suas oportunidades e depois, e todos sabemos quais as razões, as equipas portuguesas – algumas equipas portuguesas – passaram a recorrer ao excedentário mercado espanhol para reforçarem os seus plantéis.

Bem… a história não será bem assim, também é do conhecimento de todos.
A verdade assenta no facto de que, com um mercado excedentário, é verdade, em Espanha dificilmente – até por vias dos regulamentos – um jovem com 23 ou 24 anos conseguia ascender a profissional. A coisa interessava a todas as partes. Menos aos jovens portugueses que, de um momento para o outro viram tapadas as suas próprias possibilidades de abraçarem a carreira de Corredor Profissional.

Os espanhóis eram mais baratos. Alguns nem custavam nada, eram apostas para o futuro, por parte de alguns empresários que lhes pagavam, eles próprios, os vencimentos, na esperança de que, com três ou quatro resultados relevantes, em Portugal, despertassem então o interesse das grandes equipas espanholas.

E foi assim que se tornaram conhecidos e desejados corredores como Adrian Palomares, David Bernabéu, Santi Perez e mais uma série de outros que, nos últimos três anos e com o crescimento do número de equipas profissionais em Espanha, porque já rodados tiveram a oportunidade que desde sempre esperavam, no pelotão do seu país.

Aconteceu também com Joan Horrach, Vicente Reynes, David Garcia, Juan Gomis, Fran Perez, David Blanco… e tantos outros.
Aliás, nesta última Volta tivemos no pelotão um número considerável de… retornados às nossas estradas mas em representação de formações espanholas.

E há os casos de José Azevedo, que se tornou peça-chave na ONCE; de Sérgio Paulinho… e, claro, das quatro temporadas em que, em corridas espanholas, a Maia-Milaneza obrigou a imprensa espanhola a olhar para cá de Vilar Formoso.

Mas há mais… Quando em 2004 David Bernabéu venceu a Volta, fechava um ciclo de 31 anos desde que o último espanhol tinha ganho a Grandíssima – sinceramente, não sei porque os espanhóis insistem em que nós, por cá, chamamos assim à Volta!, mas é interessante – e nestes últimos quatro anos venceram-na por três vezes.
E aumentou espaço noticioso dedicado ao Ciclismo português.

Eu só vi na televisão, mas terão com certeza reparado que a própria televisão galega esteve a acompanhar algumas etapas, na peugada do David Blanco…
E, apesar do caudal de notícias ser quase imparável, em Espanha, a verdade é que nos últimos meses o semanário Meta2Mil tem sempre dedicado espaço ao que vai acontecendo em Portugal.

Assim, 4900 caracteres depois, volto ao princípio.
(O melhor é continuar noutro artigo… já a seguir.)

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