sexta-feira, agosto 24, 2007

820.ª etapa


AS CONFISSÕES DE XAVI TONDO

Podemos, na edição desta semana do semanário valenciano Meta2Mil, ler mais um magnífico – e importante – contributo para a divulgação do Ciclismo português em Espanha. E isso é importante, sim.

É uma entrevista com o vencedor da Volta, o catalão Xavier Tondo. Nada de original, para nós, que lemos em todos os jornais entrevistas com o vencedor da Volta mas, ainda assim, com alguns pontos bastante interessantes.
A começar pelo reforço de que, em Portugal se ama o ciclismo de uma forma apaixonada. Diz o Tondo, e cito: “… corri-a [a Volta] em 2003 e logo me marcou a forma como o público apoiava, e pelo interesse que a Comunicação Social mostrava pela corrida, mas este ano, com a presença do Benfica tudo foi ainda mais incrível. Qualquer dos Corredores que participámos nesta edição da Volta a Portugal te dirá [ao entrevistador] o mesmo: sentimo-nos como autênticos heróis.”

E mais à frente, explicando porque trocou a Relax pela LA-MSS-Maia: “A oferta da Maia era melhor, mas nem foi tanto por isso. O importante, para mim, foi ter percebido desde logo que o [Manuel] Zeferino acreditava em mim. (…) O Zeferino acreditava que eu tinha condições para ganhar a Volta e essa demonstração de confiança para mim foi fundamental. Jamais esquecerei o dia em que assinei contrato com ele.”

E uma curiosa revelação, esta sim: “Depois de assinar o contrato com os directores da equipa, o Zeferino levou-me a jantar a sua casa. Pode parecer um detalhe sem importância, mas demonstrativo que, desde o primeiro minuto queria que eu me integrasse naquela família. E logo nessa tarde começou a explicar-me como são as corridas em Portugal, os percursos habituais das principais provas, a informar-me sobre as principais características daqueles que iriam ser os meus rivais directos, como seriam os meus treinos para a Volta… e estávamos a 10 meses de Agosto!”

O acontecido na 1.ª etapa também mereceu uma explicação: “Cometi um erro e apanharam-me em contra-pé num abanico. Na frente só puxava o Benfica. O Zeferino mandou parar quatro companheiros de equipa para me ajudarem a recuperar. Só o João Cabreira ficou na frente. Foi um grande risco assumido pelo Zeferino e, graças a deus, na frente houve equipas como a Liberty e a DUJA que não colaboraram com o Benfica. Acho que não acreditavam em mim como rival. Mas tenho a certeza de que se o abanico tivesse sido provocado pela Maia, o Zeferino não teria perdoado a ninguém. E os adversários nesse dia perdoaram-me aquele descuido. A partir desse dia não houve mais descuidos. O Zeferino não mais parou, em todas as outras etapas, de estar permanentemente a pressionar-nos, via-rádio. Não nos concedeu nem mais um minuto de distracção.”

Outra passagem interessante. A pergunta: “Conhecendo bem o Zeferino e vendo a subida que fizeste junto com o Eládio Jimenez, pareceu que ali havia um qualquer acordo…”
A resposta, marcada por uma gargalhada: “Bem… há tácticas que não se podem revelar assim… Mas tanto ao Eládio como a mim nos interessava atacar de longe e a tope, para romper a corrida o mais cedo possível. E sim, sou sincero, penso que sem a companhia e a ajuda do Eládio eu não teria ganho a Volta. Porquê? Porque se tenho atacado a solo, de tão longe, não teria aguentado e os outros de certo que me alcançariam. E isso aconteceria numa altura em que eu já não poderia reagir. Assim o Eládio ganhou a etapa, vestiu a Camisola Amarela… ganhámos os dois."

Depois de reforçar que, embora termine o seu contrato em Dezembro, gostaria de permanecer na Maia – “Eles querem passar a equipa a Profissional Continental.” – Tondo responde à derradeira pergunta.
“Como acontece com a maioria dos espanhóis que lá vão correr, parece que não encontras defeitos em Portugal…”

“Estou encantado. Depois do jantar, quando sais para esticar um pouco as pernas as pessoas vêm ter connosco, pedem autógrafos, reconhecem-te, incentivam-te, isto apesar de haver um ídolo inquestionável para os portugueses, que é o Cândido Barbosa. E de eu ser um dos seus principais rivais. As pessoas são muito educadas e mostram que, acima de tudo, gostam de ciclismo e respeitam os Corredores.”

Resumindo. Os milhares de leitores de a Meta2Mil, após lerem a página inteira desta entrevista só podem ter ficado com a melhor das impressões sobre o nosso país e o nosso ciclismo.
Por isso termino como comecei: E isso é importante, sim!

* - A tradução do castelhano para português é livre e de minha responsabilidade.

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