sexta-feira, agosto 17, 2007

795.ª etapa


NA TORRE O BENFICA DEVIA
TER IMPOSTO O RITMO
QUE MAIS CONVINHA AO ZÉ

E em relação ao Benfica que tivemos na Volta?
Começo pelo princípio… ou vou directo ao fim?
Nem uma coisa nem outra. Regressemos ao momento em que foi anunciado que a equipa voltaria à estrada e tinha assegurada a contratação de José Azevedo. Pergunta obrigatória: com que objectivos?
Ganhar a Volta. Claro.

Alguém imagina o Benfica – ou o Sporting, ou o FC Porto – regressarem com uma equipa de Ciclismo, perguntarem-lhes quais os objectivos e a resposta ser um desenxabido… “vamos tentar ganhar uma etapa ou outra e meter um homem dos primeiros 20!”
É evidente que não.

Portanto era sabido o objectivo do Benfica e também era evidente que um corredor com o palmarés, mas muito mais do que isso, com a categoria do José Azevedo, honesto como sempre foi, responderia sempre a mesma coisa.
Voltava para lutar pela vitória da Volta a Portugal.

Não tenho a completa certeza de que os responsáveis encarnados não terão, algumas vezes, assumido claramente que o objectivo era ganhar a Volta. Pelo contrário, nunca ouvi eu, nem ouviu ninguém, o Zé dizer mais do que o seu objectivo era tentar, lutar… para ganhar a Volta a Portugal.

Dito isto, e em relação à Volta vou mesmo começar pelo fim.
Ao contrário da Liberty Seguros, que sempre contou com a possibilidade de o Cândido poder ir somando alguns segundos de bonificações – e conseguiu 52, quase um minuto – tanto a LA-MSS-Maia como o Benfica protelaram para demasiado tarde a apresentação concreta da sua candidatura, e isso cedo ficou perceptível.
Provavelmente por razões diferentes, tanto o Manel Zeferino como o Orlando Rodrigues – e a dada altura, parece que também a DUJA-Tavira optou pelo mesmo – resolveram esperar pelo penúltimo dia, o dia da subida até ao Alto da Torre.
À Maia... as coisas sairam na perfeição.

Primeira nota: qualquer deles deve ter tido a noção de que as coisas se complicaram exactamente com o facto de haver tanta gente a esperar pela mesma etapa. Onde só uma atitude ofensiva poderia funcionar.
Segunda nota: calculo que todos eles, a dada altura, terá de algum modo receado que os outros dois se aliassem…
Podia ter acontecido.

Mas já falei da Maia e lá irei à DUJA-Tavira.
Vai aos poucos…
Estou com o Benfica.

O Zé Azevedo estava bem. Mostrou-o no final da subida quando, poucos minutos depois apareceu a falar à televisão. Estava “fresco”, a subida não lhe fez qualquer espécie de mossa só que foi feita a um ritmo muito superior àquele que ele desejaria. E aqui entra, na minha humilde opinião, o erro de leitura do que o esperava, por parte do Orlando Rodrigues.
É evidente que todos estavam à espera que um dos outros atacasse.
Quem iria ser o primeiro?
A DUJA-Tavira?, naturalmente com o Krassimir Vasilev e o Nélson Vitorino.
O Ricardo Mestre, creio, ia na fuga, uns quilómetros à frente, tal como Bruno Castanheira, do Benfica e Bruno Pires, da Maia, todos com o mesmo objectivo, claro…

Ao Benfica convinha que sim porque o ritmo imposto nunca seria tão demolidor como foi o da Maia. Seria mais a jeito do ritmo ideal para o Zé.
Os esticões, os avanços de alguns metros, corredores a descaírem ligeiramente para depois recolarem em terreno menos exigente... Isso aconteceria sempre.
O segredo estaria no ritmo imposto na cabeça da corrida. E tendo este sido menos demolidor, o Zé Azevedo não teria ficado sozinho tão cedo.

E não teria que ser ele a responder aos ataques.
Não a mais de 40 quilómetros da meta, com toda a subida para a Torre por fazer.
E podia ter sido o Benfica a acelerar exactamente no ponto em que a Maia o fez.
A melhor defesa é o ataque, é sabido.
(Aliás, estou convencido que o ataque da Maia aconteceu ainda antes da viragem à esquerda, para o início da subida, exactamente para evitar o que era previsível, os ataques nas primeiras rampas.)

Se o Orlando tem tomado a iniciativa, a Maia – e o Tavira – iriam sempre responder mas, entre ataques e contra-ataques e o tempo que depois medeia até que as hostes se reorganizem… corriam os quilómetros e a meta ficava mais perto.
E, é evidente, se tivesse sido o Benfica a atacar… o ritmo imposto teria sido aquele que mais convinha ao Zé.

E repare-se como, naturalmente à espera do momento em que o previsível ataque se desse, a única equipa que só tinha que estar com atenção e ir, com quem quer que fosse – a Liberty Seguros, claro –, foi.
Sem problemas.

E a LA-MSS-Maia também podia ter atacado de outra forma….
Para provocar ela o grande ataque por parte de uma das outras, por exemplo.
Esta situação seria semelhante às anteriores. Durante alguns quilómetros veríamos alguns esticões, a recuperação da maioria dos corredores que, naturalmente, iriam formar o grupo da frente, mais outros esticões… Mas, tal como eu estou a ver este filme, tanto o Vidal Fitas como o Orlando Rodrigues o terão visto.

Iam ter nesse grupo, para além do Blanco e do Zé, mais dois ou três elementos. E seriam esses que teriam como função esticar a corrida, ou ripostar aos ataques.

O pior foi que, quando traçou a estratégia para esta etapa, Manuel Zeferino delineara um plano totalmente radical. Nada de cócegazinhas nos adversário: era à morte. E desde Carrazedo. E não foi o ataque, nem por ter sido a Maia, que surpreendeu os demais.
Foi a violência desse ataque.

Tão violento que num estalar de dedos as ajudas que tinham sido enviadas – repito, por todas as equipas interessadas – para a frente foram apanhadas, deixadas para trás e, logo depois de Seia o grupo da frente estava reduzido a nove elementos.

Onde o Xavi Tondo “só” tinha o João Cabreira, e onde o Cândido ainda tinha o Guerra e o Nuno Ribeiro. Os outros quatro resistentes – José Azevedo, David Bernabéu, Eládio Jimenez e Domenico Pozzovivo – estavam por conta própria.
E nunca mais acabava o gás ao João Cabreira!...
Foi aqui que a LA-MSS-Maia ganhou a Volta, logo, foi aqui que as suas rivais a perderam.

O Zé Azevedo teve, por diversas vezes, que procurar o seu próprio ritmo e parecia andar ali na ponta do elástico. Ora ficava para trás, ora recolava… quando o que ele tinha imaginado, e com certeza concertado com a equipa, era que esta comandasse a subida impondo o ritmo que mais lhe convinha.
A explosão, o ataque final à meta, à vitória na etapa e, acreditava-se… o carimbo na candidatura à vitória na Volta, aconteceria nos derradeiros mil metros.

A verdade é que muito, muito antes disso estava tudo definido.
Não era difícil perceber que Jimenez estava mais fresco, mas corria apenas pela etapa, e todos os outros perdiam claramente para Tondo.

Um grupo maior, com mais corredores, de mais equipas, teria feito a subida a um ritmo muito menor. E todos prefeririam ir ali no resguardo desse primeiro comboio, reservando forças e o pensamento em ataques para o mais próximo possível da meta.

Por isso, a minha opinião é a de que o Benfica teria de ter sido ele a atacar, porque o ataque não seria tão demolidor, levaria mais gente o que significa ter mais gente para responder aos esperados contra-ataques, tanto da Maia, como do Tavira.
E tinha garantido, durante muito mais tempo, a presença de outros seus corredores junto ao Zé Azevedo.
Foi aqui que falhou estratégia benfiquista na abordagem à etapa da Torre.
Mas o Benfica já tinha tido uma oportunidade de abanar a corrida e logo no primeiro dia.

Foi brilhante o sentido de oportunidade do Orlando mal lhe cheirou a repentina alteração do vento. Mas daí sai ilibado.
Ninguém teve a coragem de ajudar, nem a DUJA-Tavira que até lá tinha o camisola amarela e o líder da equipa, nem a Liberty que rapidamente recolocou o Cândido.
Que poderia até ter ficado logo para trás se o esticão do Benfica tivesse tido de imediato a colaboração de outras equipas.

Quanto ao resto... falhada a opção Javier Benitez, e depois guardando tudo para o penúltimo dia e tendo também falhado, é evidente que o Benfica saíu pela porta de trás desta Volta.

A equipa precisa de reforços e para tarefas muito específicas.

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