quarta-feira, agosto 15, 2007

790.ª etapa


GLÓRIA AO VENCEDOR…
HONRA AOS VENCIDOS
(ZEFERINO FAZ O POKER COM XAVI TONDO)


Xavier Tondo – que, e curiosamente isso escapou à reportagem da RTP (a única que segui), tem familiares há muito radicados na zona da Foz do Arelho – foi o grande vencedor desta 69.º edição da Volta a Portugal.
Duvidei das suas capacidades. Reconheço-o, mas da mesma forma como aqui deixei algumas reticências, agora coloco um bem expressivo ponto de exclamação: Foi o melhor!
Mereceu, com certeza, o triunfo.

A última vez que estive com ele – a última vez não, que essa aconteceu no recente Troféu Joaquim Agostinho – refaço a frase: a última vez que, em serviço, falei com ele, na Alentejana de há dois anos, que venceu ao serviço da Catalunya-Angel Mir, ouvi-lhe essa parte da história da sua vida que hoje repetiu, não sem que alguma comoção lhe molhasse os olhos com uma lágriminha mais teimosa. Vítima de grave acidente, como corredor, foi dado como perdido para o Ciclismo. Algumas operações depois e uma placa de platina mais uns parafusos reajustaram-lhe a perna e o projecto de uma formação profissional genuinamente catalã resgatou-o para o Ciclismo.
Como ele confessou hoje, foram momentos muito difíceis na sua vida e aqui entro directamente naquilo que, competição à parte, devia ser o principal tema de discussão: a inexplicadase calhar ainda ninguém lhe perguntou, para que ele o expliquecapacidade de Manuel Zeferino para recuperar Corredores e fazer deles vencedores.
No Ciclismo, é verdade, mas também na Vida.

Nos últimos sete anos Manuel Zeferino ganhou quatro Voltas.
Em 2001 com Fabian Jeker…
Em 2002 com Claus Möller…
Em 2004 com David Bernabéu e…
… agora com Xavi Tondo.

Creio que – e agradeço qualquer rectificação, se houver lugar a isso – o Manel já deve ser o segundo técnico português com mais Voltas no currículo. Atrás do Mestre, o homem que era o seu técnico, quando em 1981, ele ganhou a prova como Corredor: Emídio Pinto.
É uma espécie de tiro no escuro.
Faltam-me dados… por isso agradeço eventuais rectificações.

E porque é que neste primeiro artigo, sobre a última etapa da Volta e opto por falar do Manel Zeferino?
Primeiro, porque no que respeita ao Xavi… já aqui voltarei!
Depois porque numa corrida muito mais fechada do que a do ano passado, este triunfo saiu da estratégia montada pelo Manel Zeferino.

Já agora, e para quem hoje escreveu estratégia táctica (hoje, no sentido que o jornal saía hoje) devo avisar que é uma redundância. Todas as bolas são redondas, toda a água é molhada… todas as estratégias são tácticas!
É difícil escrever em jornais. Eu sei.

O Xavi Tondo foi quem deu o corpo ao manifesto – mas não foi só ele… – mas que me desculpe, esta vitória foi conquistada na retaguarda.
E teve a indelével marca do dedo de Zeferino.

Não fui só eu quem duvidou das capacidades do Xavi num crono tão longo como este. Prova de que, na verdade, não havia mesmo registos que pudéssemos usar como referência.
Mas o Zeferino guardava esse segredo com ele.

Curiosamente, o vencedor da Volta foi o primeiro dos que faziam parte do lote de candidatos a estar em foco, nesta Volta. E as notícias, então, não eram das melhores. Na tal etapa que terminou em Beja, quando a corrida abanou ao sopro do vento, Tondo ficou cortado.
Foi perfeitamente perceptível a ansiedade de Manuel Zeferino quando inquirido na altura, mas vingou a sua capacidade de mexer as peças neste mui especial tabuleiro de xadrez.
Ordem para uns acelerarem, ordens para outros ficarem para trás e… o mau momento foi ultrapassado.

Tenho a certeza de que viveu momentos angustiosos. E mais certeza ainda de que hoje, só o recordá-los lhe dará um enorme gozo.

E decidiu a Volta na etapa onde tinha que o fazer.
Eu já tinha escrito isto. Não me referia concretamente a nenhuma equipa em especial, embora pensasse numa. A minha memória não é tão curta quanto isso, nem sou – façam-me o favor de o acreditar – exactamente um vira casacas. Escrevi-o em relação ao Benfica.

Quando percebi que os encarnados não tinham equipa… lancei a ideia de que ao Zé Azevedo restava a hipóteses de tentar chegar à amarela na Torre. Quando, no dia seguinte, seria cada um por si.
Pensei eu nisto e pensou o Manel Zeferino. Não em relação ao Azevedo, claro!

Quando o Manel Zeferino chegou a técnico da Maia já eu andava no pelotão e não tenho memória nenhuma de uma equipa sua jogar à defesa. Nenhuma.
Como escrevi ontem, a principal característica das suas equipas é mesmo o ataque. E volto ao princípio. Confesso, mais uma vez, que não tinha dados que me garantissem que o Xavi Tondo fizesse um crono como fez… Por isso, e só por isso, o mantive na “minha” segunda linha de candidatos. Enganei-me!

Mas por falar em ataques… na Senhora da Graça desconfiei do ataque do João Cabreira. Não sei, algo me dizia que não ia funcionar como funcionou o ano passado. E não funcionou…
Mas ontem recordei-me da tal etapa de que aqui já falei duas ou três vezes, a da Senhora da Graça, em 2002.
(Que, para mim, essa continua a ser a mais espectacular das que já tive o privilégio de assistir.)

E escrevi-o aqui. O Manel Zeferino não é técnico de arriscar um beliscão nos adversários. Quando ataca é para “morder” fundo. Como ontem.

E, apesar de Tondo não ter ganho a etapa, apesar de na Geral não ter conseguido ultrapassar o Cândido. Ficou onde o Manel o queria…
Porque ele, melhor do que ninguém – provavelmente melhor que o próprio Tondo, que hoje se mostrou demasiado tenso, à partida –, confiava num final de corrida a seu contento.

Parabéns, então, a toda a família maiata!

2 comentários:

Unknown disse...

Só precisar uma coisa: quem recuperou Xavi Tondo foi Manuel Gonzalo - ex-corredor catalão que correu na CLAS na década de 90 - que em 2005 orientava a formação catalã Catalunya-Angel Mir, tanto que o Xavi só começou a correr a meio da época, dado que no início do ano não conseguira arranjar contrato. No ano seguinte, foi contratado pela Relax de Jesus Suarez. Obviamente que o Zeferino escolhe a dedo os vencedores da Volta a Portugal...

mzmadeira disse...

Se eu reforçar que com o "recuperar" eu quero dizer fazer de um Corredor vencedor... voltamos ao princípio!