sexta-feira, agosto 31, 2007

835.ª etapa


UMA EXPLICAÇÃO,
MAIS DO QUE UMA JUSTIFICAÇÃO

Há quem me leia, há quem se abstenha de comentar – sem que isso signifique, de todo, que concorda comigo –, mas, felizmente, há quem use do seu direito à indignação. Porque, ou não percebeu bem onde eu quis chegar, ou – é capaz de ser o mais certo – porque eu não soube explicar-me.

O VeloLuso é o meu “diário”. Aquela agendazinha onde apontamos as coisas mais relevantes que nos vão acontecendo no dia-a-dia. Conotado com uma determinada fase das nossas vidas – a adolescência, por exemplo – isso não significa que não possamos manter um diário.
Um sítio palpável – como um caderno ou uma agenda – ou, lançando mão das novas tecnologias, um Blog.

Apesar de tudo, das curvas e contracurvas pelas quais o VeloLuso já passou, ele não deixa de ser o meu diário enquanto amante do Ciclismo.
Onde vou escrevendo, dia-a-dia, o que penso sobre esta ou aquela novidade. Existe, contudo, uma considerável diferença em relação aos diários convencionais.


Está aberto a respostas. Ao contraditório.
Embora também a outras manifestações muito menos… politicamente correctas.
Se, vindas de alguém a quem reconheça estatuto para o fazer, esses comentários apenas enriquecem o Blog.
Em relação aos outros comentários, é claro que vinga a minha maior ou menor pachorra no momento. E todos nós temos momentos.

Bons, uns; nem tanto outros.

E também dependendo desse estado de espírito, podem acontecer contra-argumentações mais ou menos… politicamente correctas. Para manter a mesma designação.

Ora, aqui há dois ou três artigos atrás escrevi que, ao fim de tantos anos durante os quais não foram poucas as vezes em que eu discordei publicamente das opiniões do Professor José Santos, apareci a dizer que… agora concordo com ele.

Só os burros não mudam de opinião. E eu não sou burro.

Aqui abro um parêntesis para dizer que tentei contactar o professor através do endereço de mail que dele tinha, mas que era da… Carvalhelhos-Boavista. Por isso não terá chegado ao seu destino.

Entretanto, não houve quem não tivesse perdido a oportunidade de, para o meu mail, me chamar de “vira casacas”.

Foi o termos menos ofensivo.

Porquê? Exactamente porque eu assumi publicamente – até já neste Blog – posições contra as ideias do professor José Santos. E agora apareço a dizer que concordo com ele.

O que é que mudou?
Se se recordam, esse artigo vem na sequência do facto de a UCI ter “decretado” que um determinado Corredor – o Alexandre Valverde, no caso – não será aceite nos próximos mundiais. Isto, enquanto ele anda a correr, a competir noutras provas e, outros que também constarão – mas isso só se saberá quando as autoridades judiciais espanholas libertarem os documentos – da tal mesma lista não são alvo da mesma descriminação.

E por isso, há umas semanas atrás eu escrevi aqui que… assim não dá!
A UCI não se entende com a AMA, esta não se entende com os departamentos dos diversos estados que têm no seu pelouro a luta contra o doping; a Organização do Tour não se entende com a UCI… e eu, a partir destes dados, chego à conclusão que o Ciclismo-espectáculo – que aquilo que todos querem – não terá viabilidade se se mantiver sob a alçada das federações, logo, sobre a alçada da UCI.
Não tem.

E lembrei-me de que há muitos anos o Professor José Santos fala de uma Liga Profissional de Ciclismo que, mantendo uma representação na Assembleia-geral da Federação Portuguesa de Ciclismo, a substitui em tudo o que tem a ver com o Ciclismo profissional.
Exactamente o que eu aqui defendo, numa perspectiva mais global.
Mas não seria justo insistir nisso sem recordar – a uns – e revelar à maioria que há, pelo menos seis ou sete anos que o Professor José Santos defende essa ideia.

Tentei falar com ele… mas na mudança de telemóvel perdi o seu contacto.
Tentei o tal mail… mas essa era o da Carvalhelhos…

Sei que devia ter falado com ele antes de lançar, assim, o seu nome numa “guerra” que – desta vez – não foi ele quem lançou.

Como tenho esperança de que ele leia isto, ou alguém o fala ler… voltei ao assunto.

Com a falência, em termos desportivos, das federações, o futuro do Ciclismo poderá mesmo passar pela criação de Ligas Nacionais, Profisionais que envolveriam, para além das equipas, também os organizadores.

Estou muito orgulhoso em relação à Organização da Volta a Portugal – que, por acaso, também organiza mais quatro das sete provas internacionais portuguesas – e não creio que fosse muito difícil encontrar-se uma plataforma sobre a qual construir o Novo Ciclismo.
Certo que a PAD/JLSports organiza a Volta numa concessão da FPC.

Mas… que aconteceria se esse acordo fosse denunciado e a empresa do João Lagos continuasse a organizar a Volta?
Não era a Volta a Portugal?
E quem pegaria na Volta a federação?

E as equipas, escolheriam participar em qual?
E se, em vez de equipas – como acontece, e têm, obrigatoriamente de estar filiadas na federação… surgissem Sociedades Autónomas Desportivas (sim, as mesmas SAD, como há no futebol e… no ProTour?)

A questão, indo directo ao assunto e sendo curto e grosso, é esta: as actuais equipas não conseguem mais nem melhores patrocinadores porque tudo é “arrastado” pelos múltiplos casos de falta à verdade desportiva. E, mais dia, menos dia… acabam.

A solução?
Criar Sociedades Autónomas Desportivas, numa figura jurídica diferente da dos clubes desportivos e sem a obrigatoriedade de se inscreverem na federação. E como competiam? Criava-se a tal Liga, de cujos órgãos de topo, para além dos representantes das SAD, fizessem parte as principais Organizações, escapando, também elas – e aqui não há obrigatoriedade nenhuma de se estar ligado à federação – à estrutura caduca que vai gerindo o Ciclismo, quer o Nacional, quer o Internacional.

O resto é NEGÓCIO.

O que significa que o terceiro parceiro teria que ser um operador de televisão.

Mas isto parece-me que é o mais fácil.

E qual seria a grande diferença, a maior diferença?
Não era a liberalização do doping, como os “puros” argumentarão.

Mas aquilo que já acontece. As equipas teriam de ter médicos responsáveis pela gestão atlética dos corredores. E os médicos, esses, não escapam à sua respectiva Ordem, pelo que, teoricamente, nenhum acto médico atropelaria o que os clínicos juraram quando terminaram os seus cursos.

Eu sou um ser humano normal – embora já haja quem tenha posto em causa as minhas actuais capacidades intelectuais, noutras palavras, me tenha considerado louco – e nos últimos 20 meses fiz, exactamente, 40 análises sanguíneas. Uma de 15 em 15 dias.
O meu hematócrito tem variado entre o 41 e os 43 por cento.
(Tive curiosidade de verificar isso.)

Ora, se o que a UCI/AMA definiram como limite máximo foram os 50 por cento, implicitamente deixaram a porta aberta para que, com o devido apoio médico, aquele nível fosse potenciado. Até aos 50 por cento.
E toda a gente anda no limite.

O perigo é que alguns lá chegam sem o necessário e não dispensável apoio médico.
Isto é só um exemplo.

E volto a frisar: o que interessa às televisões, sem que, com isto, esteja a transferir para elas o negativo da coisa, é que haja espectáculo.

O que, afinal de contas é o que TODA A GENTE QUER.

Se a UCI/AMA resolveram fazer do Ciclismo o bode expiatório da dopagem generalizada em TODOS os desportos de alta competição – e se não há mais casos é porque lá estarão, como devem estar, os médicos a zelarem pela saúde dos atletas – era um FAVOR, deixar àquelas entidades apenas a obrigatoriedade de controlarem… as camadas mais jovens e… as classes de veteranos, que é, no Ciclismo, onde acontecem mais casos de positivos.

O desporto associativo – que culminará sempre numa federação – deve ser o primeiro a merecer a atenção das federações, da UCI e da AMA.

Ao profissional, deixem que se preparem – devidamente acompanhados – de forma a poderem chegar a qualquer grande corrida e poderem dar o ESPECTÁCULO que dela se espera.

E deixem, de uma vez por todas, de tentar caçar os Corredores de bicicletas.

Querem um exemplo – que não posso provar, é evidente, mas sobre o qual tenho tanta certeza como aquela de que não vou conseguir fazer mais do que um acerto no Euromilhões esta noite?

Acham que aqueles pilotos que amanhã se vão exibir sobre o Douro, entre o Porto e Gaia, entram para o seu avião… limpinhos da silva? Acham? Céus!...

E o menino Jesus nasceu numa caverna numa manjedoura, e foi aquecido por um jumento e uma vaca… o que nunca mais em 20 séculos foi necessário, para a esmagadora maioria das crianças recém nascidas. Às quais basta o regaço das mães para as manter quentes…

Por isto tudo, porque, e cada vez mais me consciencializo disto, acho que o Ciclismo Profissional tem de abandonar os bafos de um jumento e mais de uma vaca protagonizados pelas associações e federações.

Por isso, recordei lá atrás, no tal artigo – porque jamais seria capaz de assumir como minha uma ideia de outrém – que o Professor José Santos tem razão.

E sabem que mais? É possível voltarmos a ter uma Volta a Portugal com três semanas.

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