domingo, agosto 19, 2007

806.ª etapa


BENFICA: MAL OU BEM?
NEM SIM, NEM NÃO… ANTES PELO CONTRÁRIO!


Perguntou-me há um par de dias atrás o Armando, leitor assíduo do VeloLuso, o que é que eu pensava da temporada do Benfica. Adiantando que, “lá fora até esteve bem, mas cá dentro…”

Pois é Armando. Obrigaste-me a ir ver todos os resultados que compilei e, sinceramente… lá fora até esteve bem?
Ok… ganhou, colectivamente a Volta ao Luxemburgo, o Javier Benitez somou três segundos lugares, o Dani Petrov mais um, o Benitez ainda foi mais três vezes terceiro…
Não me parece que tenha, de facto, havido UM Benfica lá fora e OUTRO cá dentro.
Ficou no… ela por ela.

No total, até agora, o Benfica conseguiu dez vitórias, oito com o Benitez, uma com o Zé – no GP Correios de Portugal - e a décima, colectivamente na Volta ao Luxemburgo; somou 11 segundos lugares, mais seis terceiros e ainda ganhou – sempre com o Benitez – quatro classificações da regularidade (pontos).
No total da época – até agora, repito, e não sei que a equipa principal se vai apresentar em mais alguma corrida (regulamentarmente não pode, pelo menos intramuros) – subiu 31 vezes ao tal pódio virtual onde caberiam os três primeiros classificados, dia-a-dia, mais no final, e ainda os primeiros lugares nas classificações secundárias.
Liberty Seguros, Riberalves-Boavista, LA-MSS-Maia e… a Madeinox-Bric-Loulé fizeram melhor. Mas estas puderam correr as provas internas interditas aos encarnados. E faz alguma diferença sim senhor.

É evidente, e para quem gosta de estatísticas, o ano de 1999 foi melhor.
O Benfica ganhou a Volta ao Algarve, com o Mauri, a Volta a Portugal, com o Plaza, o Porto-Lisboa, com o Quintino…

Mas eu acho que percebi onde querias chegar.
Terá sido assim tão negativa esta temporada para o Benfica?
Acho que não.
E sustento a minha opinião.
Há uma grande diferença entre aquele Benfica de 1999 e este, de 2007. A começar pela viabilidade do projecto.
Digamos, e creio que todos o compreenderão, há oito anos tivemos na estrada um Benfica à Vale e Azevedo, mais peito que barriga, muito fumo e pouco fogo...
Agora estamos perante um projecto muito melhor fundamentado e ao qual, como é evidente, é necessário dar algum tempo. Nunca muito, porque pesa, e de que maneira, o historial do clube, mas mais algum tempo.

Em 1999 o Benfica correu a Vuelta a Espanha sem carros de apoio, sem dinheiro…
Não me vou alongar nisto mas deixo um exemplo que fala por si.
Na Vuelta de 1999 um dos auxiliares da equipa técnica teve que “inventar” uma espécie de… cana de pesca para (vergonha, não para ele, coitado, de quem até sou muito amigo, mas para o nome do clube) para recolher os bidons de água que as outras equipas deitavam fora. Apenas porque o Benfica não tinha bidons.
É verdade… uma vara com uma espécie de laço e o homem pendurado da janela do carro a tentar pescar o máximo número de bidons possível… senão, no outro dia não havia como dar água à equipa.
Uma situação impensável, hoje. Já para não falar de outros casos extremamente vergonhosos e que, só por si, arrastariam o nome do Benfica na lama.
Mas O Benfica não teve culpa disso…

Agora, as coisas são totalmente diferentes.
É verdade que, em termos de resultados, a época terá ficado àquem do que, principalmente os seus apaniguados esperavam.
E recordo, o Benfica só andou um dia de Amarelo.
Quando o Javier Benitez venceu a 1.ª etapa da Volta ao Distrito de Santarém…
É pouco? É!

Mas atentem a uma coisa. Se o Benfica tem decidido inscrever-se apenas como equipa Continental… o que teria acontecido? O Benitez só tinha ganho oito etapas? Nas etapas de montanha da Volta a Trás-os-Montes o Zé não teria tido oportunidade de ganhar? De chegar, inclusivé, à Camisola Amarela?

Mais dia, menos dia, a Imprensa vai publicar, cada um à sua maneira, o balanço da temporada e o Benfica vai ser penalizado. Porque, durante metade da temporada não correu com as outras equipas portuguesas. E o que fez lá fora também não foi por aí além…

Mas foi muito importante para o Ciclismo português – e sei de, pelo menos, uma pessoa que não vai estar de acordo (e não, não é jornalista) – ter estado na Volta à Baviera e na Volta ao Luxemburgo. E aqui quase, quase que corriam em casa.
Mas no ciclismo não existe essa coisa do factor casa.
Ganha quem tem melhores pernas.

E o Benfica não tinha?

Voltemos atrás, à formação da equipa. Tenho aqui à minha frente o plantel inicial. Teoricamente é bastante equilibrado. Roladores q.b., o Benitez para o sprint, o Pedro Lopes para lançador… faltou, na minha opinião, o acautelar de ter dois ou três homens para ajudar o Azevedo na montanha.
Ainda por cima, soube-se ainda o ano passado que a Volta este ano ia à Torre.
Mas também não acho que tenha sido por aí… na Senhora da Graça, mais um pouco e a vitória era discutida ao sprint.

Aliás, e fugindo um pouco ao tema, eu acho que já não faz mais sentido ter a Senhora da Graça todos os anos na Volta. Ou fará, porque os directores desportivos das diversas equipas vão deixar de a considerar etapa-chave.

Uma sugestão: use-se a senhora da Graça numa qualquer outra corrida do calendário.
Para ajustar forças.
No alto do Viso, por exemplo, não há condições para fazer uma chegada de etapa?
Ou então, se é que se quer mesmo dar animação à volta, a Senhora da Graça como final de uma etapa com mais duas ou três contagens de 1.ª categoria.
Como já aconteceu.

Voltemos a Benfica.
O Justino Curto, mais o Orlando Rodrigues vão ter que reformular quase a cem por cento a equipa. Não sei o que aconteceu com o Danail Petrov… provavelmente chegou mais cansado do que devia à Volta, mas outros corredores houve que não cabem nesta equipa.
Como acho que os contratos, com a excepção do Zé e de mais um ou dois, eram apenas de um ano… não haverá problemas em reformular o grupo.
E 14 corredores não chegam. Para mim, 17 é o mínimo aconselhável. Para poder, de facto, apostar em dois ou três – não no mesmo – para atacar algumas corridas do calendário e depois poder ter um nove musculado para a Volta. E atendendo ao traçado da Volta.
Meter o Benitez na equipa da Volta – porque é que o Renato Silva ficou de fora? – foi idiotice. A não ser que se tivesse uma equipa tão forte que conseguisse levar o Zé às vitórias em Santo Tirso – continuo a dizer que foi… é um flop –, na Senhora da Graça e na Torre.
Então, faria sentido meter o Benitez para evitar que o Cândido ganhasse etapas - e bonificações - da forma como ganhou.

Está respondido, Armando? Ou nem por isso?

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